24 de setembro de 2015

Sombras


"Nosso mundo é polar, tudo no Universo tem seu oposto: luz e sombra, dia e noite, em cima e embaixo, duro e mole, masculino e feminino, terra e ar, positivo e negativo, doce e salgado, homem e mulher etc. Nosso mundo psíquico e espiritual também é formado por uma parte luminosa e uma parte escura que, mesmo que não a vejamos, não quer dizer que não exista. Esta é a tarefa de cada ser humano: atravessar a vida terrena em busca da própria sombra, para levá-la à luz e trilhar sua vereda de cura.

A sombra pessoal é desenvolvida a partir da infância. Naturalmente, nos identificamos com certos aspectos, como a generosidade e a bondade, e, ao mesmo tempo, desprezamos os opostos, que, neste caso, seriam o egoísmo e a maldade. Desta maneira, nossa luz e nossa sombra vão se construindo de forma simultânea.

Roberto Bly dizia que passamos os primeiros vinte anos de nossa vida enchendo uma mochila com todo tipo de vivências e experiências... E depois passamos o resto do tempo tentando esvaziá-la. Esse é um trabalho de reconhecimento da própria sombra. Se nos recusarmos a esvaziar a mochila, ela se tornará cada vez mais pesada, e cada tentativa de abri-la será mais perigosa. Dito de outro modo: não há alternativa no encontro com si mesmo. Ou questionaremos com sinceridade nossos aspectos mais ocultos, sofridos ou dolorosos, ou então estes aspectos procurarão se infiltrar nos momentos menos oportunos de nossa existência."- A Maternidade e o encontro com a própria sombra, Laura Gutman, páginas 23 e 24.

Quem acompanhou intimamente a minha gestação, e não foram muitos, sabe que todo o "gestar"  da passarinha foi uma jornada de alargamento da alma. 

Nós caminhávamos praticamente todas as manhãs, antes do meu trabalho. E eram nesses momentos que conversávamos, ouvíamos música clássica, o canto dos pássaros, e nos regozijávamos com as árvores e flores do caminho, especialmente com o aroma das manhãs úmidas... Eu a acariciava e sentia seus movimentos em meu ventre. Mantinha um ritmo suave na respiração e entrávamos em um estado quase meditativo.

Eram momentos de nobres lições. Sobre o meu corpo que continha outro corpo. Sobre a minha alma que continha outra alma. Sobre as nossas vidas fundidas. Sobre o amor entre mãe e filha.

A minha entrega foi visceral, por isso procurava leituras que falassem sobre a maternidade de uma maneira mais profunda. E o livro da Laura Gutman, cujo trecho citei logo acima, foi um grande companheiro para mim. 

A foto da minha sombra grávida simboliza um estado de extrema conexão com minha filha. Uma conexão que acolhia toda a sua alma. Um amor acima do amor.

Embora haja tristeza por não tê-la fisicamente em meus braços, não poder tocá-la ou sentir o seu cheiro, feliz estou por lhe ter acessado a alma. 

Minha passarinha voa livre pelos céus, mas sempre sentirei seu coração batendo forte dentro de mim...


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