31 de março de 2016

Me amarrei no seu cordão

Como mencionei no post anterior, esse foi um dos artigos que mais me esclareceram sobre a fatalidade que foi a morte da Helena:

PALAVRA DA PARTEIRA
Ana Cristina Duarte  
ME AMARREI NO SEU CORDÃO

"Poucas coisas causam mais terror no imaginário do brasileiro do que o cordão umbilical. Enquanto em outros países as muheres e médicos nem pensem no assunto, no Brasil esse é o maior hit nas paradas jornalísticas, midiáticas e pseudo-médicas. Quem nunca ouviu essa frase:
- Daí o médico fez a cesárea e o bebê tinha duas circulares no pescoço, e ele disse "ainda bem que foi cesárea, pois se fosse parto normal seu bebê teria morrido". 
Que lorota feia, doutor!
Ou a outra não menos clássica:
- Meu médico é super a favor do parto normal, mas ele não arrisca. Se tiver algum exame que mostre alguma coisa errada, cordão enrolado no pescoço, por exemplo, ele opera.

O cordão umbilical pode medir desde alguns poucos centímetros (é isso mesmo, não existe "cordão curto") até quase 1 metro de comprimento e está sempre enrolado em alguma(s) parte(s) do bebê. Falar em circular de cordão é quase redundância. Como assim um cordão sem circular, num espaço exíguo, com um bebê em constante movimento? Não faz nem sentido. Os bebês interagem com o cordão, seguram, soltam, mexem. Enrolam-se, passam por dentro, fazem nós e voltas. Macramê do bebê. Ele é preenchido por uma substância gelatinosa que dá volume e protege os vasos sanguíneos internos.

Acidentes verdadeiros de cordão são situações raríssimas, que podem ocorrer durante a gravidez, por exemplo quando o bebê faz um nó verdadeiro e estica o cordão com seus movimentos, interrompmento assim o fluxo sanguíneo que o mantém. Porém esses eventos são mais raros do que um gêmeo surpresa na hora do parto, um acidente importante de trânsito, é um tipo de loteria ao contrário que atinge 1 a cada 5 mil gestações. Se isso fosse algo de fato constante em nossa espécie, os bebês não se mexeriam loucamente no útero, interagindo com um cordão de 80 cm de comprimento. Se acidentes de cordão fossem algo fácil de ocorrer, nossos cordões teriam 20 cm, e nossos bebês ficariam quietos numa só posição. A natureza teria cuidado de selecionar essas características."

Leia o artigo completo aqui: http://www.maternidadeativa.com.br/artigo1.html

30 de março de 2016

O nó

Veja que curioso: na primeira conversa com a doula que, por fim, contratamos para nos acompanhar no parto (Mariana Prata), ela nos mostrou o vídeo de um nó verdadeiro de cordão em que a criança nasceu super bem, sem qualquer problema...

Nesse vídeo (que infelizmente não conseguimos resgatar para colocar aqui) a enfermeira obstetra fazia com que o nó corresse no cordão. Ou seja: isso demonstrava que o fato de haver o nó não significava qualquer problema para o bebê ou o parto. Afinal, ele tem uma constituição própria e muito especial para evitar "acidentes" que interrompam o seu fluxo sanguíneo.

O processo evolutivo da nossa espécie possibilitou que tudo seja da maneira mais segura para a mãe e seu bebê (https://pt.wikipedia.org/wiki/Geleia_de_Wharton).

Só que, obviamente, para toda regra há exceção.

Como menciona a obstetriz Ana Cristina Duarte em um artigo incrível que postarei logo a seguir, o nó verdadeiro de cordão que leva o bebê a óbito é como uma loteria ao contrário. 

Nossa Heleninha se foi em virtude de um acidente inesperado.

Embora inicialmente eu tenha ficado indignada, em especial porque estávamos muito bem, obrigada, hoje penso que isso comprova o fato de que ela tinha exatamente esse tempo conosco. Helena precisava partir às 39 semanas de gestação.

Quero colocar aqui um vídeo recente que achei no Youtube do nascimento de um bebê com esse nó (sem qualquer seqüela respiratória ou neurológica):



Veja só o relato que li na página Origami Mommy, do Facebook:


Esse foi o nó que levou a Helena, simbolizando também o amor que para sempre nos manterá unidos:


Tenho a foto do corpinho dela e seu longo cordão, mas não acho adequado colocá-la aqui.

A causa mortis é "hipóxia fetal", e o bebê fica bastante roxinho pela ausência de oxigênio.

Creio que olhar para esse nó é uma maneira de elaborar melhor a perda da minha filha...

29 de março de 2016

Desatador de Nó

Quando soube que a Helena se foi por um nó verdadeiro de cordão, fiquei confusa e espantada. 

Parecia algo tão surreal.

Como assim, um nó? Nunca tinha ouvido falar de um bebê que tenha vindo a óbito por esse motivo.

Mas depois que aconteceu fiquei sabendo de outros casos e, embora não tenha diminuído a tristeza, não me senti mais tão "azarada", se é que posso me referir assim.

Aos poucos fui assimilando que o nó pode ser transformado em algo simbólico, o qual só me resta desatar.

Essa música é uma homenagem à força desatadora dos nós da vida.

Aquela que nos livra daquilo que possa sufocar e impedir o fluxo, o ar, o alimento tão necessário à nossa nutrição. À nutrição da nossa alma.

Desatando, desatando, sigo me libertando da dor que um dia me prendeu.

É o momento de vicejar.


Desatador de Nó
Flávia Wenceslau

Eu vim pra quem perdeu as estribeiras
Pois eu sou desatador de nó
Conheço cada palmo da ladeira
Na estrada de quem ficou só
Sou tempo, sou saudade de uma tarde
Eu sou a esperança que restou

E vim pra quem me chamou
De nó, eu sou desatador

Eu sou menino, sou lembrança de criança
No peão que já rodou
Desato nó de vento
E pro nó do teu pensamento
Eu sou desatador
Eu vim pra quem jogou na ribanceira
Toda a mágoa, todo o desamor

Eu vim pra quem me chamou
De nó, eu sou desatador

Eu sou futuro, sou presente
Sei de tudo quanto por aqui passou
Do grão de areia até o infinito
O mais bonito, eu sou o criador
Eu sou bondade, sou vontade de amar
A quem ainda não chegou

Eu vim pra quem me chamou
De nó, eu sou desatador

28 de março de 2016

No colo da Grande Mãe

A poltrona que havia sido destinada para amamentar minha filha, agora se tornou um local de acolhimento, cura e renovação.

Coloquei a canga de Iemanjá sobre ela e é incrível ter a sensação de estar no colo da Grande Mãe.

A mãe soberana, acolhedora e amorosa... Sempre presente... 

Para os meus momentos de leituras e reflexões:

27 de março de 2016

Páscoa

Acordei desejando Feliz Páscoa primeiramente para a Helena, depois para meu irmão, sogra e avós...

Surpreendentemente, uma pequena borboleta veio nos visitar pela manhã.

Ela passou por mim, e logo pensei que se minha filha fosse uma borboleta, ela seria como a que vi: pequenina e alegre.

Então meu marido a notou repousada sobre a porta-balcão do nosso quarto.

Sim, passarinha... Creio que está conosco nessa Páscoa.

Sinta o amor de nós três por você.

Nós te amamos muito!

Mamãe, Papai e Irmão...


Páscoa - Passagem
Jean-Yves Leloup

Sede passantes.

Este tema da passagem é o tema da Páscoa. 

Pessah em hebraico, quer dizer passagem. 

A passagem, no rio, de uma margem à outra margem, a passagem de um pensamento a outro pensamento, a passagem de um estado de consciência a outro estado de consciência. 

A passagem de um modo de vida a um outro modo de vida.

Somos passageiros.

A vida é uma ponte e, como diziam os antigos, não se constrói sua casa sobre uma ponte. 

Temos que manter, ao mesmo tempo, as duas margens do rio, a matéria e o espírito, o céu e a terra, o masculino e o feminino e fazer a ponte entre estas nossas diferentes partes, sabendo que estamos de passagem.

É importante lembrar-se do carácter passageiro de nossa existência, da impermanência de todas as coisas, pois o sofrimento geralmente é de querermos fazer durar o que não foi feito para durar.

A grande páscoa é a passagem desta vida mortal para a vida eterna, é a abertura do coração humano ao coração divino.

É a passagem da escravidão para a liberdade, passagem que é simbolizada pela migração dos hebreus, do Egito para a terra Prometida.Mas não é preciso temer o Mar Vermelho.

O mar de nossas memórias, de nossos medos, de nossas reações.

Temos que atravessar todas estas ondas, todas estas tempestades, para tocar a terra da liberdade, o espaço da liberdade que existe dentro de nós.

Sede passantes. 

Creio que esta palavra é verdadeiramente um convite para continuarmos nosso caminho a partir do lugar onde algumas vezes paramos.

Observemos o que pára a vida em nós, o que impede o amor e o perdão, onde se localiza o medo dentro de nós. 

É por lá que é preciso passar, é lá o nosso Mar Vermelho.

Mas, ao mesmo tempo, não esqueçamos a luz, não esqueçamos a liberdade, a terra que nos foi prometida.

25 de março de 2016

As Mães de Chico Xavier

Ontem assisti a esse belo filme.

Chorei, chorei, chorei...

Lavei a alma e o meu coração.

A maternidade vai muito além... transpõe qualquer barreira física.

Helena, eu a amo muito.

Para sempre.

24 de março de 2016

Om Mani Padme Hum

Esse mantra me acompanhou durante a gestação da Helena, sob a forma de um anel que ganhei da minha terapeuta.

Nunca soube exatamente o que significava.

Bom...

É o mantra da compaixão. Uma invocação à deusa Kuan Yin.

(tenho um porta-retrato com essa imagem ao lado da minha cama)

Pedi muita proteção e inspiração dessa deusa para o meu parto.

As coisas não saíram como esperava, e às vezes isso bate forte: "Por quê não fui atendida?"

Hoje resolvi ir atrás desse mantra e seu significado.

Foi muito bom ouvi-lo na gravação abaixo. 

Om Mani Padme Hum: "Da lama nasce a flor de lótus".

Que assim seja no meu coração, no do meu marido e do meu filho:


PS: Fique à vontade para me corrigir, pois sou leiga no assunto. Encontrei essas informações no Google.

21 de março de 2016

Cordãozinho

Fiquei encantada com o livro "Até breve, José".

E enviei um email para a Camila retornando sobre o impacto que ele teve sobre mim...

Segue trecho do email que enviei relatando sobre a  decisão de amarrar o cordão que embala o livro em meu pulso e, logo abaixo, o post sobre ele no Facebook:

"(...) Quanto ao cordão, eu também o relacionei àquele que  ganhou de uma amiga. E que rompeu no momento em que iria contar ao seu marido sobre a vinda da Joana.

Depois de ler esse trecho do seu livro, decidi que colocaria o cordãozinho do José no meu pulso. Sei que não teve a bênção de nenhum guru, mas tem a bênção de uma história de amor.

E todas as histórias de amor são curativas.

Toda vez que o coração aperta um pouquinho, eu olho para o cordão verde reluzente do José e me lembro de que não estou sozinha nessa dor. De que ela é suportável. E de que depois dele veio a sua Joana... 

Para mim, ela não representa a cura dessa dor. E nem a substituição do filho que partiu. Mas simboliza o fato de que, embora sejamos surpreendidas por experiências difíceis, elas passam. Não é sempre assim, tão triste. A alegria vem depois. 

A comprovação do clichê tão verdadeiro: 'depois da tempestade, vem a bonança'.

Agora fico imaginando quando o meu cordãozinho vai se romper..."


20 de março de 2016

De passagem...

Março tem sido bastante difícil.

7 meses da morte da Helena juntamente com 3 anos da morte do meu irmão...

Aniversário do meu filho tão querido, mas com a ausência da irmã bastante presente em nossos corações.

Não estou inspirada para escrever.

Coisas boas aconteceram também, mas o fato é que tem sido extremamente difícil.

Especialmente em função dos lutos entrelaçados.

Quando fui ao cemitério, nesse ano, não sabia por quem chorava: meu irmão ou minha filha?

Também não pude deixar de me sentir culpada pela dor da ausência da Helena ser maior...

O dia estava tão belo como o dia que o Biel se foi. E isso tornou a retrospectiva ainda mais vívida em meu coração.

Já não consigo dar forças à minha mãe por sua perda.

É tudo muito estranho.

Mas, como disse, coisas boas aconteceram.

Teremos um grupo de apoio à perda gestacional aqui na região e ganhamos uma linda beagle que se chama Nina.

Penso que tudo ficará bem... Pequenos milagres sempre acontecem.


Eu e meu irmão caçula Biel, em 2009

9 de março de 2016

Um Conto do Destino

Tem um filme muito especial...

E que tocou profundamente o meu coração. Um filme que me salva quando o coração aperta e a tristeza toma conta.

Descobri, com o luto da Helena, que o Amor Maior se faz presente de diversas formas. Salvando, limpando a ferida, colocando-me para repousar, inspirando.

Alguém já conseguiu enxergar isso?

Nos momentos mais difíceis, eis que surge algo tão belo e tão especial que se torna impossível ignorar.

Esse filme é um dos remédios para a minha alma.

Depois que o assisti, tive necessidade de ver novamente. No entanto, esqueci de alugá-lo. 

Mas na noite desse mesmo dia, enquanto minha mãe procurava algo nos canais da TV de sua casa, ele apareceu para mim.

Isso não é magia? Não é o Amor Maior se fazendo presente?

Nesses momentos, sinto que o Universo todo está comigo. Amando-me, ainda que não esteja inteira.

"E se formos todos únicos e o Universo nos amar da mesma forma? 
Nos amar tanto que se desdobra através de séculos para amar cada um de nós...
E, às vezes, temos a sorte de ver isso:
Nenhuma vida é mais importante do que a outra, e nada acontece sem um propósito... Nada...
E se formos todos parte de um grande mosaico que algum dia entenderemos?
E se um dia, quando tivermos feito tudo o que podemos fazer sozinhos, nos levantarmos e encontrarmos com aqueles que mais amamos num abraço eterno e virarmos... estrelas?"