31 de agosto de 2015

Boa noite!

Não consigo deixar de escrever uma mensagem só para você, minha pequerrucha...

Hoje ganhei uma anjinha linda da tia Nair. Ela acende as asas.

Está no nosso altar, junto com a imagem do Arcanjo Gabriel, Nossa Senhora de Fátima e São Francisco de Assis. Para nos preencher um pouco mais com a sua presença.

Amo você sempre, sempre, sempre... Durma bem!

Sua mamãe


Desabafos - mamãe em luto

Um dos momentos mais difíceis, para mim, são aqueles em que o Henrique fala da irmã.

Ontem, por exemplo, estávamos no estacionamento do supermercado quando ele apontou para uma família e disse: “Nossa família seria igualzinha àquela”. Era um casal com um menino e uma bebêzinha que estava no colo da mãe.

Nós sonhamos tanto com a nossa família de “4”. Foi realmente uma alegria quando soubemos que viria uma menininha. Não fazia questão que fosse menino ou menina, mas ter um casalzinho de filhos seria nossa “cereja do bolo”.

E o processo agora é desconstruir isso. Não sei se teremos mais filhos. É muito cedo para dizer. De qualquer maneira, a Helena se foi. E ela é insubstituível.

Sempre olharei para uma menininha com sua mãe e imaginarei como seríamos nós duas.

As datas da Helena não passarão em branco. Estranho que ela tenha morrido antes de “nascer”. Difícil o cérebro processar essa informação. Não faz muito sentido. Mas a cada aniversário, lembraremos com pesar sua breve passagem. Até o final dos meus dias, será dessa maneira.

Mas como disse no começo do post, dói perceber a tristeza e frustração do Henrique pela morte da Heleninha.

Deixo-o verbalizar, e aproveito para dizer que também estou triste e que sinto muito.

Apenas me mantenho alerta para não deixar espaço à falta de fé e esperança entre nós. Eu e o Lê estamos nos esforçando para que o Henrique entenda que o ocorrido foi uma fatalidade, e que Deus continua sendo maravilhoso embora coisas tristes aconteçam em nossas vidas.

Estou participando de um grupo no Facebook criado por mães que perderam seus bebês. Chama-se “Por que partiu tão cedo?”.

Tem feito bem compartilhar minha história e ler outros relatos. Não me sinto tão “alienígena” e sozinha. Além disso, encontro ferramentas para lidar melhor com a dor.

Uma das participantes compartilhou a história da irmãzinha do Chico Bento. Não sabia que ele também perdeu a irmã. Achei uma incrível sincronicidade e logo mostrei para o Henrique, já que adora a Turma da Mônica.

Ele leu a primeira história e me pediu que lesse a segunda. Gostou bastante. E me senti aliviada pelo fato de abordarmos o assunto de uma maneira lúdica e sensível.

Ainda falaremos muito sobre isso aqui em casa…

Leia as histórias aqui: Mariana, a irmã do Chico Bento.

O fato é que preciso “cuidar” da dor do meu filho mas não tenho ideia do que fazer com a minha própria dor…

30 de agosto de 2015

O amor


Pequena Helena,

Esse foi o poema que a Bernardete citou quando veio em casa depois de um dia muito difícil para mim...

Seu pai e eu achamos ele lindo e perfeito para esse momento.

A sua ausência é dolorosa porque você é infinitamente amada. E o amor tem dessas coisas. Tem o regozijo e o vazio. A alegria e a tristeza. A cura e a ferida...

Recorrerei a esse poema sempre que me sentir excessivamente triste, ou que porventura me sentir injustiçada por tê-la perdido.

Minha alma sabe que tudo está certo. Mas meu coração de mãe lamenta que não esteja aqui para me alegrar com o seu sorriso e olhar... Aqueles que nunca conhecerei, exceto em sonhos ou pensamentos.


"O AMOR"
Khalil Gibran

Quando o amor vos chamar, segui-o,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos
Como o vento devasta o jardim.
Pois, da mesma forma que o amor vos coroa,
Assim ele vos crucifica.
E da mesma forma que contribui para vosso crescimento,
Trabalha para vossa poda.
E da mesma forma que alcança vossa altura
E acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
Assim também desce até vossas raízes
E as sacode no seu apego à terra.
Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez.
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma
No pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas, o amor operará em vós
Para que conheçais os segredos de vossos corações
E, com esse conhecimento,
Vos convertais no pão místico do banquete divino.
Todavia, se no vosso temor,
Procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez
E abandonásseis a eira do amor,
Para entrar num mundo sem estações,
Onde rireis, mas não todos os vossos risos,
E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.
O amor nada dá senão de si próprio
E nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir.
Porque o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga:
"Deus está no meu coração",
Mas que diga antes:
"Eu estou no coração de Deus".
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,
Pois o amor, se vos achar dignos,
Determinará ele próprio o vosso curso.
O amor não tem outro desejo
Senão o de atingir a sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos,
Sejam estes os vossos desejos:
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho
Que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor
E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
De acordardes na aurora com o coração alado
E agradecerdes por um novo dia de amor;
De descansardes ao meio-dia
E meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes para casa à noite com gratidão;
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado,
E nos lábios uma canção de bem-aventurança.



Minha passarinha, durma bem... Embalando-a em meus braços, beijo-lhe a fronte e acaricio seus cabelos com ternura e amor.

Gratidão por ter escolhido a mim como sua mãe. 

Meu bebê-estrelinha, meu anjo alado...

Te amo sempre e sempre.

Sua mamãe

29 de agosto de 2015

"Só" mais um dia

Boa noite, querida!

Hoje a mamãe e o papai passou uma manhã silenciosa e triste.

Mas saímos à tarde.  Encontramos suas priminhas Bibi, Manu e Rapha.  Não consegui deixar de fantasiar que você seria a bonequinha delas. Tenho um carinho especial por todas e estava muito feliz que teríamos mais uma princesinha na turma. A princesinha Helena...

Às vezes a dor é muito forte, filhota. Mas sei que essa é a fase mais difícil.  Em honra a tudo o que vivemos e à sua grandeza, irei superar um dia de cada vez com muito amor e esperança.

Ganhamos uma azaleia da tia Guida mas é apenas sua!  Logo plantaremos em nosso jardim e ela florescerá sempre próximo do seu aniversário. Dessa forma, conseguiremos mantê-la cada vez mais viva e perto de nós!

Sinta todo o nosso amor, onde estiver. Saudades infinitas de você, minha passarinha...

Da sempre sua mamãe.

28 de agosto de 2015

Visitas



Oi, filhota!

Hoje recebemos visitas por aqui... Sua tia Natalha, tia-avó Ivone, Jú, Vinicius, Cinthia e Fernando. Você sabe que não tem sido muito fácil encontrar as pessoas que nos acompanharam desde o início. Todos estão muito emocionados e eu muito sensível.

Mas foi muito bom. Nós choramos juntos. Aprendemos juntos com a sua chegada e partida. Trocamos sentimentos e me senti aliviada. 

Filha, está claro que você cativou muitas pessoas durante sua breve passagem. Ainda é difícil acreditar que, apesar de uma gestação tão iluminada e alegre, você não esteja conosco agora.

Ainda fantasio que o certo seria receber os familiares e amigos cheia de olheiras por você chorar muito à noite, e por me desgastar com sua adaptação física ao mundinho extra-útero. Não é assim, querida. E terei que me acostumar a isso.

Meus peitos ainda derramam leite. Aproveito e choro pelos seios também. Quero que seja assim, e que o leite seque quando meu corpo, finalmente, entender que você não virá. Está difícil processar essa informação, Helena. E eu respeito o meu corpo pois passamos meses nos preparando para amamentá-la.

Se, de alguma maneira, puder se deliciar com o meu leite quentinho, então receba-o com todo o meu amor onde estiver.

Hoje o dia não foi de tantas lágrimas. Sei que essa fase é a pior e mais dolorosa, por isso agradeço o término desse dia, dentre os mais difíceis desde que a perdi.

Te amo muito, "passarinha". Sempre e sempre.

Sua mamãe.




27 de agosto de 2015

Nossa música

Querida, como tenho pensado em você.

Há um vazio de dor em meu peito por sua ausência.

Hoje passei o dia com sua avó e encontrei a tia Guida que queria muito que nascesse no dia do seu aniversário.  Tem várias pessoas tristes pelo que aconteceu. Elas te amam... E não sabem como agir comigo pois também estão emocionadas.

Não consigo mais cantar a nossa música.  Começo a chorar.  Por isso resolvi deixá-la aqui pra você:

Oferta de Flores - Maria Bethânia



Durma bem, minha gorduchinha.

Te amo hoje e eternamente...

Sua mamãe

26 de agosto de 2015

Primeiro post…

Filha, faz dezesseis dias que você parou de se mexer dentro de mim. Treze dias que seu corpo saiu sem vida do meu ventre.

Desde que te percebi “morta”, cada segundo pareceu uma eternidade. E ainda me sinto dentro de um pesadelo sem fim.

Ainda não estou certa se esse blog ajudará a superar tudo isso. A dor hoje é tão profunda, tão cortante, que parece sufocar.

Tenho dúvidas da minha força e da minha fé.

Mas a minha terapeuta me alertou sobre isso. Então, resolvi acreditar que tudo o que tenho sentido faz parte do processo de luto, e que me expressar de todas as formas possíveis ajudará a drenar a dor e a elaborar sua perda.

Minha gorduchinha, mamãe te ama e sente muito sua falta. É um vazio imenso em meu peito. Uma dor praticamente insuportável. Desejaria um trabalho de parto por dia a ter que vivenciar essa dor. Essa dor aparentemente eterna. Essa dor sem trégua.

Seu irmão e seu pai são tão doces e carinhosos. Eles têm sido muito compreensivos. Você também seria muito paparicada por esses cavalheiros. Nossa, como seria…

Ah, filhota. Espero que possa receber minhas palavras e meu amor onde estiver.

Não há revolta, você sabe.

Mas há sofrimento. O sofrimento de quem ama e se entrega a esse sentimento de corpo e alma. Eu te amo, pequena Helena. Sempre te amarei. E, por isso, sofro pela sua ausência física. Sofro por ter que te procurar no etéreo. Sofro porque só guardo lembranças de sua vida em meu ventre.

Espero ter sido uma boa mãe enquanto esteve fisicamente comigo. Espero ser melhor ainda agora, quando unidas apenas em coração e espírito.

Não consigo mais escrever. Estou muito emocionada.

Já chorei muito hoje. Estou tão feia. Os olhos tão inchados…

Você que me fez sentir ser a mulher mais bonita do mundo,  não pode acreditar no "trapinho" que me tornei.

Me dê forças, pequena-grande Helena, para ser novamente bela e forte.

Você e Henrique merecem uma mãe inteira e cheia de esperança na vida.

Só preciso de mais um tempinho. De um pouco mais de lágrimas. Descer um pouco mais no poço de tristeza por tê-la perdido.

Te amo muito. Hoje e eternamente.

Sua mamãe