25 de outubro de 2016

Porta-retrato

Há um mês, mais ou menos, senti que era o momento da foto da Helena ficar na estante da sala.

Eu e o Henrique fizemos o porta-retrato. O passarinho é a lembrança de nascimento dela.

Os sentimentos que eu tinha nesse momento de apresentação e despedida?

Amor e Gratidão...


20 de agosto de 2016

Encerrando um ciclo

O aniversário da Helena passou, e as datas foram mais leves do que eu imaginava...

Fiquei pensando em como seria esse post, se seria o último ou se ainda escreveria sobre a minha experiência que, embora difícil, guarda tanta beleza.

Hoje tivemos o encontro mensal do Grupo Acolher & Viver, e relembrei grande parte do meu processo com a exibição do documentário "O Segundo Sol". Aproveito essa energia para encerrar um ciclo.

Fiquei aliviada por ter chegado até aqui de forma íntegra.

Posso dizer que cheguei ao fundo do poço, e várias vezes pensei que jamais conseguiria sair.

Quando publiquei o blog, minha intenção era dar vazão a todos os sentimentos da forma mais realista possível... Talvez ajudar outras mães que passaram pelo mesmo que eu.

Mas não queria romantizar minha perda... Não queria enfeitá-la com laços apenas para atender as expectativas alheias.

Sim, minha filha é única e especial e eu não abriria mão da experiência de tê-la comigo por nove meses. 

No entanto, acredito firmemente que as pessoas têm pouca habilidade para lidar com a dor do outro.

E essa inabilidade muitas vezes nos leva a comportamentos e atitudes que dificultam a nossa elaboração do luto. Reconheço que dores desse tipo sempre vêm bater à nossa porta, de uma forma ou de outra. No meu caso, decidi que deveria ser o quanto antes.

Pensava que se eu não pudesse chorar a morte da minha filha, o que o mundo me permitiria chorar se não conheci dor tão profunda quanto essa? (e já perdi pessoas muito, muito, amadas)

Refletia, ainda, que meu momento de sentir dor era de fato os primeiros dias, semanas e meses da morte da Helena... O momento de chorar era aquele... Não queria postergar as minhas lágrimas, pois achava que o futuro não era o lugar mais adequado para me encontrar com esse vazio.

Senti muita dor no corpo e na alma... Enfrentei meus piores fantasmas. Por várias vezes esses momentos não couberam aqui de tanta crueza.

Sim... Os momentos mais difíceis não puderam ser escritos, mas sempre que uma mãe se encontrar comigo nessas fases, terá meu colo e mais sincero abraço. Provavelmente choraremos juntas.

Hoje eu me percebo mais conectada com o amor que sinto pela Helena e pelo que vivemos juntas. A dor da sua morte está mais distante e eu consegui integrar sua ausência à história da minha vida. Não consigo expressar exatamente em palavras, mas é algo próximo da aceitação.

Ressalva: é algo próximo da aceitação, mas não é aceitação. Afinal, que mãe não preferiria ter seu bebê nos braços? 

Não é possível atravessar esse deserto sozinha. Não imagino como seria sem a minha terapeuta, médica, grupos de apoio, marido, filho, familiares, amigas. Devo minha mais sincera gratidão a todos aqueles que me apoiaram nesse processo e respeitaram o meu tempo.

Se tem uma mãe se perguntando se o luto acaba em um ano, respondo que não sei.

Mas o que diferencia é que estou aprendendo a encontrar a Helena no que chamo de País do Amor, um lugar fora do nosso espaço-tempo. Onde não existem vivos ou mortos, apenas pessoas que se amam.

A gente se encontra em sonhos (embora raros), na imaginação e nas cartas que escrevo especialmente para ela.

No seu aniversário, escrevi todos os dias (do dia 10 ao 13). Comprei flores, acendi uma vela e me esforcei ao máximo para preencher nossa casa de amor. 

No dia 10 fizemos um ritual muito bonito no consultório da minha terapeuta. Houve a participação do meu filho e marido e eles puderam expressar seus sentimentos, o que foi muito bom para eles e para mim.

Assim termina parte dessa jornada e, acredito, finalizam meus posts aqui. 

Deixarei o blog aberto para visitas. Divulguem, comentem, pois permanecerei em contato com pessoas que estejam passando pelo mesmo que eu passei.

Quero me dedicar agora à divulgação do Grupo Acolher & Viver, ampliando essa rede de apoio. Também vou seguir com outras transformações que desejo fazer em minha vida.

Acima de tudo, Helena permanecerá viva em meu coração. Sempre, sempre... Até o dia em que eu fechar meus olhos para esse mundo e acordar no outro, onde acredito que ela estará me esperando.

Linda e luminosa como sempre foi.

Te amo, minha bebê... Minha gorduchinha... Minha passarinha...


Nossa foto depois que nasceu, foi banhada e vestida. Faltou o Henrique.


A lembrancinha que decidimos distribuir mesmo após a perda. A entrega possibilitou momentos lindos com pessoas que amamos. Foi muito importante essa decisão para nós.


A flor da Helena em seu aniversário, e os sapatinhos que a representaram no nosso ensaio fotográfico de 5 meses de gravidez.


O cantinho da Helena em seu aniversário.
 Momento de oração, amor e conexão com nossa passarinha.

4 de agosto de 2016

Passarim

Li um texto muito bonito hoje...


Ao final, deparei-me com uma jóia. Uma música linda, linda... 

Eu não conhecia essa canção, mas acabou sendo um belo presente há poucos dias do aniversário da passarinha. É uma música da saudade de quem tanto amamos... a música do primeiro aniversário da nossa pequenina Helena.

Passarinha, receba todo o nosso amor. Sempre!


Passarim
Tom Jobim

Passarim quis pousar, não deu, voou 
Porque o tiro partiu mas não pegou 
Passarinho me conta então me diz 
Porque que eu também não fui feliz 
Me diz o que eu faço da paixão 
Que me devora o coração 
Que me devora o coração 
Que me maltrata o coração 
Que me maltrata o coração 

E o mato que é bom, o fogo queimou 
Cadê o fogo, a água apagou 
E cadê a água, o boi bebeu 
Cadê o amor, o gato comeu 
E a cinza espalhou 
E a chuva carregou 
Cadê meu amor que o vento levou 
(Passarim quis pousar, não deu, voou) 

Passarim quis pousar, não deu, voou 
Porque o tiro feriu mas não matou 
Passarinho me conta então me diz 
Por que que eu também não fui feliz 
Cadê meu amor minha canção 
Que me alegrava o coração 
Que me alegrava o coração 
Que iluminava o coração 
Que iluminava a escuridão 

Cadê meu caminho a água levou 
Cadê meu rastro, a chuva apagou 
E a minha casa, o rio carregou 
E o meu amor me abandonou 
Voou, voou, voou 
Voou, voou, voou 
E passou o tempo e o vento levou 

Passarim quis pousar, não deu, voou 
Porque o tiro feriu mas não matou 
Passarinho me conta então, me diz 
Por que que eu também não fui feliz 
Cadê meu amor minha canção 
Que me alegrava o coração 
Que me alegrava o coração 
Que iluminava o coração 
Que iluminava a escuridão 
E a luz da manhã, o dia queimou 
Cadê o dia, envelheceu 
E a tarde caiu e o sol morreu 
E de repente escureceu 
E a lua então brilhou 
Depois sumiu no breu 
E ficou tão frio que amanheceu 
(Passarim quis pousar, não deu, voou) 
Passarim quis pousar não deu 
Voou, voou, voou, voou, voou

3 de agosto de 2016

Luto do irmão

De fato, não tive muita inspiração para escrever por aqui.

Parece que nada era tão digno de anotação... Mas o processo de renovação após a morte da Helena e reconstrução das nossas vidas continuou.

Em Julho eu fui ao Santuário da Nossa Senhora Desatadora dos Nós e foi muito significativo. Coloquei a Helena nos braços da Mãe... Coloquei lá também o meu coração para que seu amor e compaixão o curasse. Pedi por meu marido e também pelo meu filho.

Pedi especialmente pela Helena, claro.

Eu me emocionei muito e acredito que tenha sido um ritual importante para o encerramento desse ciclo. O ciclo do aniversário da nossa filha.

No mês passado, publiquei meu primeiro artigo no site "Do Luto à Luta - Apoio à Perda Gestacional e Neonatal" sobre o nome do bebê na Certidão de Natimorto. Tive retorno de algumas mães e percebi que foi um trabalho muito importante. Quero realmente contribuir para que nenhuma família se sinta sozinha nessa dor. Quem sabe ainda poderemos mudar algumas questões regulamentares e legislativas a esse respeito, também?

O importante é que hoje temos espaço para falar sobre um assunto tão delicado.

Mas o que me motivou realmente a escrever aqui hoje foi o meu filho...

Ontem, voltando pra casa, ele me perguntou se a Helena tinha nascido no ano passado. Respondi que sim, e que em breve faria um ano. Que essa data sempre seria muito especial para nós.

Mas ele ficou muito triste.

Quando fizemos o Evangelho à noite, e na oração final pedi especialmente pela Helena, ele chorou.

As lágrimas foram sinceras e sentidas.

E me perguntou: Por quê com a Helena, mamãe?. Não que eu quisesse que fosse com outra pessoa, eu não queria que isso acontecesse com ninguém, nunca...

Fiquei tão surpresa com sua pergunta e reflexão madura. Porque por diversas vezes me questionei da mesma forma.

Faz tempo que eu já não pergunto mais, pois não importa a razão. Importa o que fazemos dessa experiência em nossas vidas.

Há aproximadamente três semanas tive sonhos muito significativos que têm me ajudado a elaborar e organizar meus sentimentos. Finalmente sinto que o lado doloroso do que passamos está partindo. E, embora sempre tenha achado que perdi minha filha, comecei a perceber o quanto ela está presente em mim.

Que a dor vá embora, e fique definitivamente o amor.

O meu filho é um menino de apenas 8 anos... Sabemos que seu processo de elaboração será à medida que for aumentando a sua compreensão de tudo.

Se eu pudesse, tiraria essa dor dele. Mas acredito que o conhecimento da morte de forma tão precoce o tornará um homem forte. Três vidas importantes para ele se foram: tio, avó e irmã. Pouco tempo de intervalo entre elas... 

Mas a "perda" da irmã realmente feriu seu coração de menino.

Se alguém quiser compartilhar a experiência do irmão ou irmã com relação a perda do bebê, sinta-se à vontade nos comentários.

Força, amor e luz para todos nós!


30 de junho de 2016

Em busca de um Caminho

Embora estivesse sem qualquer inspiração para escrever no blog, meu caminho de auto-cura prosseguiu.

Mesmo na aridez do meu deserto do luto*, bebi de algumas fontes que me mantiveram no propósito da regeneração.

Esse filme foi recomendado por minha terapeuta e gostei muito dele.

Parece que é baseado em um livro de mesmo nome, cuja história é a de um pai que perdeu o filho no Caminho de Santiago de Compostela.

Um dos meus sonhos é fazer essa peregrinação. Por isso, gostei muito de conhecer a paisagem e a Igreja... 

Recomendo, embora a filmagem pareça de um filme antigo. Não sei o por quê da qualidade duvidosa. Vale pela história e paisagens e está disponível no Netflix.

* Esse termo é utilizado pela Camila, no livro "Até Breve, José"... Apropriei-me dele porque é realmente perfeito.

27 de junho de 2016

Fogo

Foi diante dessa fogueira, há praticamente um ano atrás, que comecei a sentir as primeiras contrações de treinamento da Helena.

Naquela noite, vibrei de contentamento diante da natureza seguir seu ritmo em meu corpo.

Tudo no seu curso normal... Tudo conectado através do mais puro amor.

A fogueira desse ano não foi capaz de aquecer o meu ventre e colo vazios.

Fiquei triste.

E na mesma noite sonhei com as verdadeiras contrações do trabalho de parto.

Era a Helena ou outro bebê?

Não sei... Mas eu estava a desejar nosso final feliz... 

26 de junho de 2016

Para passar dói tanto...

Eu li o texto abaixo em uma página do facebook logo após finalizar uma mandala (que há tempos não fazia)...

Quando percebi a autoria, notei a incrível coincidência de ter esse livro na minha pequena biblioteca particular.

Bom... É como se as palavras complementassem o desenho.

Quando constatei a ausência da poesia no meu luto, uma sincronicidade poética aconteceu para mim:


PERCEBER PROFUNDO
(livro Viva Zen, p. 14 e 15, Monja Coen)

"Isso me lembrou uma antiga história. Vou contá-la.

No silêncio da noite, ela se movia como uma cobra. Silenciosa e sinuosa. Seu riso era manso e seu passo macio. Quem a visse se encantava com os olhos profundos e a língua afiada. Não levava desaforo para casa. Não engolia sapo. Que contradição.

Até que ele chegou e se insinuou em seu coração. De frio, o sangue jorrou quente, pareciam cascatas nas veias, no coração. Apaixonou-se, entregou-se, perdeu-se. Depois, ele se foi. Ela começou a procurar. Só que não procurava por ele, mas procurava por ela mesma. Onde teria estado? Quem era? O que queria? O que é a vida?

Quanto mais questionava, mais se enredava. Como se comesse a própria cauda, girava em torno de si mesma. Repetia padrões e ações. Amava e desamava mais facilmente que todas as amigas. Sofria, enciumava, brigava, ficava só e chorava. Depois tornava a se arrumar, a sair, a procurar.

Um dia aconteceu. Quando menos esperava, percebeu o sonho em que se enredara. Parou de procurar em outras pessoas aquilo que só nela encontrava. Ficou tranquila de tudo, sorrindo de novo para o mundo. Já não se importava de engolir sapos. Tudo fazia parte desse perceber profundo.

A respiração, o ar, o corpo, os odores e o mar. Falaram sobre reencarnação. Ela falou do renascimento. Contou do mar e suas ondas, das águas que são gotas a girar. Gotas que formam marolas, ondas enormes, espuma e tornam voltar a ser mar. Sem nunca haver deixado de sê-lo.

Qual seria o princípio, o início, a causa número um desse constante desabrochar? Como Xaquiamuni Buda, ela soube silenciar. Dedicou-se a cuidar das pessoas, das coisas, dos animais, da terra e dos vegetais. Cuidava dos passarinhos, dos cupins e dos golfinhos. Todos eram exatamente iguais.

Importantes pois que, sendo, permitiam que ela fosse e compreendesse a grandeza do saber de interser. Percebeu que jamais ficava só. Pois havia o ar, as estrelas e o luar. Pernilongos e formigas fazem parte do grande tear.

No barulho do dia, ela se moveu como um Sol. Brilhante e clara. Seu riso era sonoro, seu mover, silencioso. Quem a visse se encantava com os olhos profundos e a fala calma, pausada.

Então, ele voltou e pediu perdão. Perdão de quê? De ter ido? De ter feito sua vontade? De ter percorrido o mundo num só segundo? Ele chorava e tremia, falava tudo que vira. Guerras e aflições, fomes e convulsões, explorações e mentiras que levavam povos às guerras, à fome, à ruína.

Ela ouvia e o embalava dizendo apenas:

'Isso passa'.

Mas para passar dói tanto, arrebenta, faz ferida.

'Isso passa, veja a vida'.

Ele ergueu os olhos úmidos e percebeu que tudo luzia. As folhas nas árvores, o céu, as nuvens, até os carros. Ainda não convencido perguntou:

'De que serve essa beleza se há dor, se há tumor, se há maldade, heresia?'

'Serve para abrandar o seu dia.'

E ela lhe ensinou a sentar quieto, parado, lhe ensinou a ver com o coração aberto, escancarado, lhe ensinou a agir para transformar sem raiva e sem rancor.

Juntos caminharam felizes, espalhando a toda gente que o mundo tinha mudado, pois muda quando nós conseguimos ver o outro lado. Há frutos para todos compartilharmos. Há respeito e ternura, sem ciúmes nem bravura.

A cultura da paz está chegando para ficar e levar a humanidade a um novo jeito de ser, de servir, de agir, de pensar e de falar.

Um jeito macio e gentil, como a brisa do mar em noite de lua cheia a nos abençoar. Um jeito macio e gentil, como o da criança."

Um texto poético que, para mim, retrata a jornada do herói de cada um...

Quem sou eu?

Eu sou ela e sou ele em seus comportamentos, dúvidas e aflições.

Sou ela e ele, depois que tudo isso passar...

Intersendo. Amando. Semeando. Colhendo.

Um dia... Quando tudo isso passar...

23 de junho de 2016

Cadê a poesia?

Faz tempo que não escrevo aqui...

Mas desde os nove meses da morte da Helena, algo aconteceu.

Sinto uma irritabilidade freqüente, embora muitas coisas tenham melhorado para mim e para minha família. Hoje pela manhã, fiquei refletindo sobre o meu estado emocional.

"Afinal, o que está estranho?"...

Nessa reflexão, eu me dei conta de que a poesia do luto acabou. 

Olhando para trás, percebo que nos momentos mais angustiantes da dor eu extraí certa beleza. Uma mandala, uma poesia, uma música, uma frase, um ritual, um momento especial... 

Agora eu estou no lugar do deserto do luto onde muito caminhei - por isso sei que meu trabalho não foi em vão e que exigiu de mim muita entrega e energia - mas não consigo enxergar o oásis à minha frente.

Estou cansada, com sede, exausta por procurar um sentido de identidade: quem eu fui um dia, deixei em algum lugar e momento dessa caminhada. 

Não me reconheço mais...

E eu penso todos os dias e momentos na minha filha. Que estaria com dez meses, já comendo, engatinhando, ensaiando os primeiros passos... Sendo a luz e a alegria dos nossos dias. Certamente já estaríamos planejando seu primeiro aniversário.

Ontem, estudando com meu filho, pensei como seria estar com ela... Certamente uma loucura  dar atenção aos dois. Talvez o Henrique tivesse ciúmes do trono dividido com a irmã. 

Como entristece me dar conta do que perdemos. 

Eu sou um coração amputado. 

Talvez eu esteja na "crueza" do luto. No vazio de tudo. Eu me esvaziei de mim, depois que esvaziaram a minha vida de pessoas tão amadas: filha, irmão, sogra. Esvaziaram a minha vida da falsa segurança da permanência, e restou-me o "nada" onde apoiar. Com o que eu preencho tudo isso?

Ainda não aprendi a flutuar nesse vácuo, e é o que devo fazer.

Disseram-me que preciso de férias. Férias de mim. Férias de planejar o futuro.

Algo me diz que essa pode ser a fonte do meu oásis interior... Um lugar onde eu possa saciar a sede para, finalmente, chegar ao fim dessa longa travessia.

31 de maio de 2016

Harry

Filha querida,

Essa foto eu tirei ontem com o novo integrante da família.

Ele se chama Harry... Seu irmão lhe deu o nome porque gosta muito do Harry Potter.

O Henrique disse que você e ele são seus pais... e então ele é o meu neto!

Achei engraçado. :)

Sempre pensamos em você, minha flor.

O ar em nossa casa finalmente está mais leve, apesar da sua partida.

Aonde estiver, receba muitos beijos, carinhos e afagos da mamãe. De todos nós.

Helena, você é e sempre será muitíssimo amada.

Até mais,

Mamãe




23 de maio de 2016

A vida precisa do vazio - Rubem Alves

"A lagarta dorme num vazio chamado casulo até se transformar em borboleta.

A música precisa de um vazio chamado silêncio para ser ouvida. Um poema precisa do vazio da folha de papel em branco para ser escrito. É no vazio da jarra que se colocam flores.

E as pessoas, para serem belas e amadas, precisam ter um vazio dentro delas. A maioria acha o contrário; pensa que o bom é ser cheio. Essas são as pessoas que se acham cheias de verdades e sabedoria e falam sem parar. São umas chatas!

Bonitas são as pessoas que falam pouco e sabem escutar. A essas pessoas é fácil amar. Elas estão cheias de vazio.

E é no vazio da distância que vive a saudade."

* Encontrei o texto nesse link AQUI

13 de maio de 2016

Há nove meses, você nasceu

Querida filha,

A calopsita já chegou em casa e seu irmão lhe deu o nome de Harry... Harry Potter!

O vazio que você deixou foi muito intenso. Os animais não chegaram para supri-lo, mas é muito provável que se estivesse conosco, adiaríamos por mais um tempo a decisão de tê-los.

O nono mês tem sido mais suave, passarinha. Estou começando a me sentir bonita novamente, embora em meu corpo continuem as marcas da sua gestação.

Decidi cortar o pão que tanto amo da minha dieta diária, e prosseguir com minhas caminhadas matinais, intercalando trechos de corrida. 

Baixei um aplicativo para acompanhar meu rendimento.

Esse é o primeiro extrato dele, e me sinto bastante orgulhosa. 

Será que um dia a mamãe vira uma corredora? Não tenho pretensões, querida, mas nada é impossível nessa vida.

Como no Dia das Mães, queria apenas compartilhar com você mais uma boa notícia.

Eu fico triste às vezes. Mas a vida continua sendo muito bonita e prazerosa de se viver.

Sabe, dizem que os bebês que partem antes ou logo após nascer são anjos. 

Não sou apegada a essa ideia, pois eu me sinto bastante sua mãe. Para mim, sou eu ainda que a protejo e não o contrário... 

Não posso amamentá-la fisicamente, mas posso nutri-la com todo meu amor. Posso, com meu exemplo, mostrar que as separações são dolorosas, a vida por vezes é bastante difícil, mas sempre encontramos maneiras positivas de prosseguir com esperança no futuro.

Pela primeira vez, minha querida passarinha, a mamãe está contente no dia 13.

Espero que fique contente também com as notícias que lhe trago.

Muitos beijinhos, abraço apertado, carinhos, afagos e colo para você.

Eu te amo do tamanho do infinito.


Congratulations, a new personal record for Running!
Runkeeper

Congratulations!

A New Personal Best for Running!

runkeeper
Farthest Distance
3.37 km
runkeeper
Longest Duration
32:32
runkeeper
Most Calories Burned
184 cal
runkeeper
Fastest Average Pace
9:39 min / km
runkeeper
Largest Elevation Climb
67 m

10 de maio de 2016

9 meses sem você

Hoje faz 9 meses que a Helena partiu.

Pela primeira vez, não foi o meu pensamento logo que acordei.

Pela primeira vez, eu me surpreendi com essa lembrança apenas enquanto me maquiava no banheiro, depois de uma caminhada...

Não que eu não tenha pensado nela... Sempre penso... Minha filha está presente em cada milésimo de segundo dos meus dias. Mas, pela primeira vez, não acordei pensando que há 9 meses atrás foi o início dos dias mais difíceis que já vivi.

De certa forma, fiquei contente... Essas datas são muito desgastantes. Muito tristes. É como reprisar um filme de terror em sua mente, sem cessar. Não temos controle sobre isso.

Mas então, agora a pouco, recordei que o Dia das Mães foi bem difícil para mim. Talvez eu tenha apenas antecipado o que iria sentir nesses dias. 

Algo que já desisti foi de subestimar o poder da dor e da saudade.

Hoje o dia não está bonito lá fora, mas está bonito aqui dentro.

Por enquanto é o que importa...

Querida filha, 

Completamos uma gestação sem você.

A mamãe sente muitas saudades. Imagino que você também. Mas fique bem, minha passarinha.

Tudo está certo...

O amor está acima de tudo.

Sinta todo o carinho da sua mãe, do seu pai, do seu irmão, e lambidinhas da Nina que é uma sapeca!

Te amo pra sempre.

Beijos,

Mamãe

8 de maio de 2016

Dia das Mães

Hoje foi um dia misto... Claro que seria...

Prefiro manter silêncio sobre os meus sentimentos.

Aproveitei para participar de uma campanha muito especial do site "Vamos Falar sobre o Luto?".

Os detalhes estão AQUI.

Essa foi a pequena carta que escrevi para Helena:

"Querida filha, vim aqui, nesse dia tão especial para mães e filhos, contar-lhe ‪#‎umaboanoticia‬.* São várias boas notícias, minha passarinha, apesar de nossa separação tão precoce. Seu irmão está cada vez mais lindo e inteligente. É muito querido por todos que o cercam. É amoroso e sensível, como jamais imaginei que poderia ser. É um orgulho para mim e para o seu pai. E, certamente, para você, que tem um mano tão dedicado. Espero que receba nossas orações diárias onde estiver. Ele não se esquece de você... Nenhum de nós. Jamais a esqueceremos em sua breve passagem nesse mundo. Seu pai é um homem e tanto. Especial, cheio de amor para nós, é a força que sempre nos apóia. Está cozinhando maravilhosamente bem, melhor ainda do que quando estava na minha barriga! É o melhor pai que você e seu irmão poderiam ter. Sua priminha Sophie nasceu, forte e esperta! Linda! Seus tios estão apaixonados e muito felizes. Sua priminha Bianca é bastante engraçada. Sempre é especial e divertido estar com ela. Seus avós estão bem, o titio Fred, e espero que tenha conhecido sua vovó Yvani onde estiver, assim como seu titio Gabriel e suas bisas e bisos. São pessoas queridas que partiram, mas permanecem muito presentes em nossos corações. Agora temos uma cachorrinha que se chama Nina e logo chegará uma calopsita que o Henrique ganhou. Seu irmão ainda não escolheu o nome. Querida, sempre conversamos não é? O resto todo você já sabe... Sinta meus beijos e carinhos. A mamãe está sempre com você... sempre, meu amor... Não, eu não me despeço... Estamos aqui, um coração dentro do outro, como sempre foi. Te amo!"

*campanha da fanpage Vamos falar sobre o Luto?


7 de maio de 2016

Empatia

É amanhã o Dia das Mães.

No grupo virtual que participo (Mães de Estrelas), recebemos um depoimento muito bonito da mamãe da Bianca (Karina).

Quero compartilhar aqui a postagem que fizemos na Fanpage do Grupo Acolher & Viver:


Todas do grupo ficamos muito emocionadas. Embora a homenagem tenha sido especificamente para a Karina, sentimo-nos extremamente reconhecidas e acolhidas.

Sim, eu tenho o Henrique para me abraçar. E, sim, eu sou lembrada como mãe... Mas quantas homenagens eu receberia se tivesse apenas a Helena?

Sou muito solidária a todas as mães cujos primeiros bebês são estrelas, e meu desejo é que todas elas também sejam acolhidas no Dia das Mães.

6 de maio de 2016

Um pouco de risada

Da mesma forma que sigo bem e firme em meu caminho, algo pequeno pode mexer com meu coração de modo desproporcional.

Nesse mês tive dois momentos bem difíceis, e recebi o conselho de suavizar o caminho do luto.

Suavizar, entenda-se por ser mais amorosa comigo e me dar pequenos presentes diários.

Ontem assisti um filme de comédia. Não foi de tirar o fôlego, mas deu muito bem para descontrair.

Filme bobinho e sem grandes pretensões. Indico:

1 de maio de 2016

O mês do Dia das Mães

Chegou...

O mês tão celebrado pelas mães e filhos.

Um mês, para mim, ambíguo. Feliz por estar ao lado do meu querido Henrique, e triste pelo primeiro sem a Helena. 

Eu me recordo da emoção que tomou conta de mim na apresentação da escola, ano passado.

É preciso lembrar, também, que no dia 12 será o segundo aniversário da morte da minha sogra. Uma pessoa tão querida e que faz muita falta para todos nós.

D. Yvani, onde quer que esteja, receba nosso abraço carinhoso. Nossos beijos... Talvez seja difícil para você também, mas estaremos todos sempre juntos em amor.

Helena, minha filha-estrela... Essa música eu dedico a você, com muito carinho:


Pra declarar minha saudade
Maria Rita
  
Fiz uma canção
Pra declarar minha saudade
Do tempo em que a alegria dominou meu coração
Eu era bem feliz
Mas desabou a tempestade
Levando um lindo sonho pelas águas da desilusão
Eu fiz uma canção
Pra declarar minha saudade
Usei sinceridade que
Me dá certeza que você
Quando ouvir o meu cantar,
Vai se lembrar que deixou
Do lado esquerdo do meu peito essa dor
Que tá difícil de curar
Tenho certeza que você
De onde ouvir
Meu soluçar em forma de uma canção
Vai se lembrar que nosso amor é tão bom
E que pra sempre vai durar

30 de abril de 2016

Por cesárea eu pari

Eu penso que, quando vem uma experiência como a que estou vivenciando, é preciso olhar para todos os ferimentos que sangram.

Um deles foi precisar me submeter novamente a uma cirurgia. Embora dessa vez tenha sido realmente necessária, foi difícil absorver que meu corpo chegou a um limite intransponível. E que, por conta disso, fui privada de enterrar a passarinha.

Recebi na minha Timeline a mensagem abaixo, que foi muito curativa. Bela, poética e singela. Tenho duas cicatrizes de amor. Que sejam abençoadas. 

Eu as amo, porque através dessa porta chegaram meus filhos tão queridos e amados, Henrique e Helena.




Yo parí por cesárea, 
y por cesárea yo parí. 
Y se creó la puerta sagrada, 
Para ti y para mí. 
Y pongo las manos en mi vientre, 
y susurro para mí: 
Gracias cicatriz querida, 
por lo mucho que aprendí. 
Yo parí por cesárea, 
y por cesárea yo parí. 
Y honro este portal de vida, 
por donde yo renací.
Como madre, como hija, 
como mujer sin fin. 
Gracias cicatriz querida,
por formar parte de mí. 
Porque tu custodias bien, 
el dolor que padecí. 
Un dolor que hoy yo transformo 
En sabiduría para mí. 
Yo parí por cesárea, 
y por cesárea yo parí. 
Gracias cicatriz querida, 
tú y yo unidas al fin. 
Y mi parto fue digno y bueno, 
y mi parto me enseñó, 
a inclinarme ante la vida 
más allá de mi corazón.

Tradução:

Eu pari por cesárea,
e por cesária eu pari.
E se criou a porta sagrada,
Para ti e para mim.
E ponho minhas mãos em meu ventre,
e sussurro para mim:
Gratidão, querida cicatriz,
pelo tanto que aprendi.
Pari por cesárea,
e por cesárea eu pari.
E honro este portal de vida,
por onde eu renasci.
Como mãe, como filha,
como mulher sem fim.
Gratidão, querida cicatriz,
por formar parte de mim.
Porque tu guardas bem,
a dor que padeci.
Uma dor que hoje eu transformo
Em sabedoria para mim.
Pari por cesárea,
e por cesárea eu pari.
Gratidão, querida cicatriz,
tu e eu unidas ao fim.
O meu parto foi digno e bom,
o meu parto me ensinou,
a inclinar-me perante a vida
além do meu coração.

29 de abril de 2016

Com o tempo, melhora...

Melhora a dor sufocante.

Dá para respirar... Para começar a sonhar novamente.

Cada história é uma história. 

Mas o importante é manter a fé na vida e no amor. Foi onde me agarrei desde o início.

Quando desmoronamos, a grande chance que temos é a da reconstrução. A possibilidade de se refazer deixando de lado aquilo que não queremos mais. 

Esse é o meu processo atual. Reconstrução, limpeza, conexão.

O grupo Acolher & Viver foi concebido e permanecerá crescendo. Para que nenhuma família passe sozinha por essa dor permeada de tantos tabus. Para que a mãe ou o pai possam escolher se precisam do apoio de quem vivenciou algo similar, ou se preferem prosseguir sozinhos.

Um espaço para que profissionais possam se sensibilizar e, talvez, agirem de forma diferente nas situações que não estão sob seu controle. Um chamado para quem deseja saber sobre histórias de amor.

Há muitos projetos em andamento na minha vida.

Projetos bonitos, que vêm do meu coração... Da minha alma...

Paradoxalmente, a Helena vai se tornando cada vez mais presente. Não precisa muito para eu sentir sua energia. Eu a conheço muito bem, embora nunca tenhamos trocado um olhar.

Sinto que exerço a minha maternidade, ainda que estejamos separadas. Nós nos amamos.

Que os caminhos se abram e a vida flua em abundante amor.


14 de abril de 2016

Cantando

Essa tarde, ao voltar para casa, tocou uma música do Grupo Revelação.

E eu me deixei levar pelas batidas e melodia... cantei alto... batuquei no volante do carro...

Quando me dei conta, pensei: "uau! eu estou mesmo cantando?"

Caiu a minha ficha de que há oito meses eu não canto alto, não me deixo levar pela música, e não me alegro de verdade com algo tão simples mas que sempre me deu muito prazer...

Foi incrível, porque espontâneo. Foi mágico, porque aconteceu sem eu perceber. Fiquei muito emocionada ao notar que a alegria e a esperança ainda pulsam dentro de mim. Entenda a palavra "emocionada" com "chorei de emoção" (literalmente!).

Algo muito estranho no luto é que, da mesma maneira que você vai ao fundo do poço, você pode, pouco depois, subir aos céus da alegria.

Ontem comentei com a minha terapeuta que me sinto "multipolar" nesse movimento.

Mas tenho procurado respeitar meus avanços e recuos sem culpas.

Hoje foi um dia alegre: vibrei e cantei.

Amanhã... Quem sabe?

Se for tempestade, que seja breve... Que passe...



Grades do Coração
Grupo Revelação

 Quando eu te vi pela primeira vez
Me encantei com o seu jeitinho de ser
Seu olhar tão lindo me fez viajar
Vi no seu sorriso imenso mar

Fiz uma canção pra nunca esquecer
O momento em que eu conheci você
Era uma linda noite de verão
Você despertou minha emoção

Passei a minha vida a procurar
Alguém que eu pudesse entregar
A chave para abrir meu coração
Tirar de vez do peito a solidão

Já tentei, não dá para esconder
O amor que sinto por você
É luz, desejo, encanto e sedução
Ardente como a fúria de um vulcão

A paixão me pegou
Tentei escapar, não consegui
Nas grades do meu coração
Sem querer eu te prendi

13 de abril de 2016

A Costura da Vida

Seguindo o movimento de desatar, desembaraçar, desenrolar... Apareceu-me essa bela música.

Boa de dançar, boa de cantar, boa de sentir!


Costura da Vida
Quatro Cântaros

Eu tentei compreender a costura da vida
Me enrolei, pois a linha era muito comprida
Eu tentei compreender a costura da vida
Me enrolei, pois a linha era muito comprida

Como é que eu vou fazer para desenrolar
Para desenrolar
Mas como é que eu vou fazer para desenrolar
Para desenrolar

Se linha do céu sou estrela
Na linha da terra sou rei
Mas na linha das águas sou triste
Pelo fogo que um dia apaguei

Se linha do céu sou estrela
Na linha da terra sou rei
Mas na linha das águas sou triste
Pelos mares que não naveguei

Como é que eu vou fazer para desenrolar
Para desenrolar
Mas como é que eu vou fazer para desenrolar
Para desenrolar

Por isso eu não deixo de caminhar
Não deixo de procurar
Por isso eu não deixo de caminhar
Não deixo de procurar
Por isso eu não deixo de caminhar

10 de abril de 2016

8 meses - Maria Desatadora dos Nós

Hoje completam oito meses que a Helena se foi.

Nesse mês eu descobri uma estranha coincidência em toda nossa história.

Pouquíssimo tempo antes de engravidar, ganhei uma medalha e uma vela da Nossa Senhora Desatadora dos Nós.

Não sei exatamente o que isso significa; de qualquer maneira creio profundamente que é preciso deixar fluir... A dor, o amor, a saudade, a esperança. E confiar na Mãe protetora e acolhedora que sabe fazer o que deve ser feito. Que tem a capacidade de identificar os grandes nós da vida, e desatá-los.

Que seja desatado o nó que nos levou a Helena, e todos os outros que me impedem de estar em contato com o Amor Maior.


"Mãe Nossa, rogo-te que esta vela que hoje estou acendendo, seja a LUZ para que Tu me ilumines em minhas dificuldades e em minhas decisões... Seja FOGO para que Tu queimes os nós da minha vida. Seja CHAMA para que Tu aqueças meu coração. 
Eu não posso ficar aqui por muito tempo, mas deixando arder esta vela, deixo um pouco de mim mesmo para te honrar e ficar diante de Tua presença.
Ajuda-me a prolongar minha oração nas atividades deste dia. Amém"

Maria, Aquela que desata os nós
Livrai-nos de todo mal, Senhora Nossa e desfaça os nós que impedem de nos unirmos à Deus.

(essa prece está na vela que ganhei)



8 de abril de 2016

Caminhadas

Voltei a fazer minhas caminhadas matinais...

Para emagrecer, para fortalecer os músculos e manter minha pressão estabilizada. Mas também porque durante a gestação da Helena eu havia me comprometido em cuidar mais do meu corpo.

Só que não tem sido fácil, pois me recorda os momentos que passamos juntas. Eu me conectava bastante com ela e comigo. Conversava. Refletia. Imaginava como seria nosso parto. Como seria o seu rosto. Como ficaria emocionada no seu nascimento.

Sonhava como seria a nossa família de 4 pessoas. Uma felicidade completa! Eu caminhava e ao mesmo tempo flutuava de amor e esperança no futuro.

Eu até tentei fazer outras rotas, ou outro tipo de exercício. Mas eu gosto mesmo é de caminhar ao ar livre, e no mesmo bairro em que andava com a Helena.

Sabe... Ao caminhar, às vezes choro sozinha. Vendo um bebê passeando na rua com sua mãe, lembrando de como éramos felizes juntas. E durante um desses momentos de reflexão e tristeza, percebi o quanto tenho me esforçado para me manter "na superfície".

É um verdadeiro trabalho diário de me manter respirando, sem afundar na dor.

Por um breve momento, após esse insight, eu tive pena de mim. Pena por esse revés da vida que me machucou profundamente. Mas pensei: "bem, eu posso estar numa luta diária para respirar, mas quando respiro absorvo a vida em sua inteireza. Absorvo-a bela e rude. Absorvo-a com suas luzes e sombras".

Algo mudou dentro de mim depois da morte da Helena. Jamais serei a mesma, e hoje não posso dizer quem sou de verdade.

Mas aprendi uma lição: embora os acontecimentos  possam ser extremamente cruéis conosco, quando sobrevivemos a eles ganhamos em vitalidade. O ar entra melhor no pulmão. A expiração é mais suave e presente. Enfim, conhecemos uma faceta da existência muito especial.

Seguirei em minhas caminhadas, pois sei que tenho muito a aprender com elas.

Eu e a Helena nos amamos para sempre.

4 de abril de 2016

Nina

Há algum tempo eu percebi que não existe algo em que poderei me agarrar, com o poder de tirar definitivamente a dor que sinto.

Em alguns posts anteriores eu falei sobre os "remédios para o luto". 

Se pudesse dar um conselho para alguém que acabou de passar por uma perda difícil seria esse: encontre seus remédios e, se não encontrá-los, fique tranqüila(o) que eles chegarão até você.

Falei sobre alguns deles nesse post: "Aquilo que me salva no luto", mas desde então apareceram vários outros que foram fundamentais para mim.

Chegarei aos 8 meses desde que a Helena se foi... Os primeiros dias e meses foram certamente os piores, mas tenho recaídas na dor. Isso, de fato, faz parte do processo. Gostaria muito que fosse diferente, mas não é.

Hoje falo de uma "fulaninha" que chegou em casa cheia de marra, prometendo aprontar "mil-e-uma", mas que nos surpreendeu com sua alegria e carinho.

Tive uma cachorra da raça beagle durante a adolescência que se chamava Belly. Ela marcou para sempre a minha vida. Quando nos ofereceram a Milly, foi bem difícil resistir.

Nós a rebatizamos de "Nina", nome escolhido pelo meu filho, e ela já traz bastante alegria para o lar.

Demos vários apelidos, e certamente virão diversos outros: "Nina Furacão", "Lady Nina", "Ninoca", "Tranqueirinha" e por aí vai...

A Ninoca, que chegou no dia 16/03/16, certamente me salva no luto!