24 de dezembro de 2015

Véspera de Natal...

Há apenas três dias montamos nossa árvore de Natal...

O Natal mais difícil da minha vida. O mais triste.

Ano passado já sabíamos da Helena e estávamos com o coração cheio de energia da vida, do amor, do renascimento e da fé.

Fantasiávamos que esse ano seria muito especial com nossa pequerrucha.

Mas no deserto também nascem flores. E elas são belas e resistentes, não são?

No meio dessa aridez, decidi colocar o anjinho que ganhamos da "madrinha" da Helena na árvore de Natal. 

Ele fica no altar, junto à imagem de Nossa Senhora de Fátima que ganhei da minha mãe, e que minha avó levou para benzer antes do meu casamento. Agora esse anjinho dá um colorido especial à nossa árvore. Traz esperança, boas lembranças, e coloca a Helena no cenário dessa data tão importante e especial.

É reconfortante vê-lo envolto por luzes "pisca-pisca", rodeado também por enfeites coloridos.

O anjinho foi colocado pelo irmão... Que alma sensível o Henrique tem... E como ele nutre amor por sua irmã-estrelinha. É doloroso, mas também muito bonito de se ver...

Desejo a tod@s um Natal repleto de esperança, luz e amor.

Que todos os bebês-estrelinhas sejam abençoados e sintam o amor de suas mães, pais, familiares e amigos. Que Jesus ilumine, inspire e traga conforto a tod@s nós!

FELIZ NATAL COM AMOR!



5 de dezembro de 2015

Uma pausa

Tempo de descansar e de ficar conectada ao mar, ao meu filho e meu marido.

Semana de datas importantes...

Aniversário de descoberta da gravidez, "mesversário" da morte e nascimento da Helena.

É bom ir para outro lugar. É bom não estar em casa nesses dias. É bom estar distante do cenário das alegrias e dores da vinda da passarinha...

Até logo...

4 de dezembro de 2015

Poeminha

Um poeminha pra você, passarinha
Que saiu de dentro de mim,
E, no entanto, permanece pulsando dentro de mim

Que trouxe amor, luz, calor...
Desconstruindo-me todinha
Logo depois que me deixou

Um poeminha pra você, querida filha
Que não vi sorrir, chorar, respirar
Mas percebi sua luz em todos à minha volta, iluminar

Um poeminha pra você, gorduchinha
Que em sonhos pari e embalei
Alegrando-me no toque da sua pele,
formada na gestação que não planejei

Um poeminha pra você que amo tanto,
Assim como amo ao seu irmão
Aqueles para quem me entrego,
 transbordando materna paixão


2 de dezembro de 2015

Trailer do Documentário "O Segundo Sol"

O documentário será lançado na internet, gratuitamente, no dia 07/12/2015... Um dia antes do aniversário de descoberta da gravidez da nossa Helena...

Que ele ajude pais, familiares e profissionais a lidarem melhor com a perda gestacional e neonatal.


30 de novembro de 2015

Quando um bebê morre antes de nascer

– Por Ana Cris Duarte

Às vezes a natureza se manifesta de forma bastante ilógica, e porque não dizer, injusta. Bebês deviam nascer e viver muitos anos até se tornarem adultos e velhinhos. Embora essa seja a regra, infelizmente existem as exceções. Pode acontecer de um bebê ter sua vida estranhamente interrompida ainda dentro do útero materno. Essas situações são raríssimas, especialmente no terceiro trimestre, quando o corpo está todo pronto, só faltando o amadurecimento do final dos órgãos. 

Aqui vão algumas perguntas frequentemente feitas quando isso acontece: 

1) Porque ele morreu?

Se nada foi verificado nos exames, se tudo estava bem, é muito difícil descobrirmos a razão. Pode ter sido um acidente do cordão umbilical, um problema metabólico raro, ou formou-se um trombo que interrompeu o fluxo de sangue para o bebê. Enfim, após o nascimento pode até ser feita a necropsia, avaliação superficial, exame anatomo-patológico da placenta, mas a verdade é que a maioria desses óbitos não são esclarecidos.

 2) A mãe pode ter causado isso?

Não, tirando situações específicas como por exemplo uma fortíssima intoxicação, de modo geral o sistema bebê/bolsa/cordão/placenta/líquido é todo auto-equilibrado, quase um sistema fechado e inviolável. Quando ocorre um desequilíbro nesse sistema fechado, foi um caminho do bebê, não da mãe. Mesmo que não consigamos descobrir porquê.

 3) Era possível se evitar?

Não, nos casos em que não houve complicação de pré natal, esses eventos são totalmente aleatórios, raros e de surpresa. Não tem como saber que algo está acontecendo.  

4) Isso vai acontecer novamente?

Pouquíssimo provável. O risco continuará sendo o mínimo, muito pequeno, muito raro. Com exceção de algumas raras patologias, não há essa “tendência” de perder bebês no final da gravidez. 

5) Não é melhor fazer uma cesárea então, para se livrar logo do problema?

Não. A cesárea sempre adiciona risco à vida da mãe. Além disso, é uma marca eterna no corpo. As gravidezes seguintes têm mais risco, o útero pode se romper, as aderências podem dificultar a vida normal. Pode haver infecção, e na cesárea ela se disseminar pelo corpo da mãe. Após a cesárea, são semanas de dor e lembranças da cirurgia, que sempre remeterão à morte do bebê. No parto normal, quando acabar, acabou, encerrou o ciclo, fechou.

 6) O que é melhor, induzir o parto tão logo se saiba da notícia, ou aguardar entrar em trabalho de parto?

De forma geral, se mãe não tiver problemas de saúde e os exames de sangue estão bons, é possível esperar até que o corpo esteja pronto para atravessar o processo do parto. Esse tempo pode ser muito útil, para que os pais possam voltar para casa e digerir a notícia, começar o processo de luto, chorar o que precisarem chorar. Os pais precisam de tempo! Às vezes toda a família precisa! A indução pode levar 24h, 48h até 72h para se transformar em trabalho de parto e parto. Um parto espontâneo demora 6 a 18 horas. Passar pelo parto com a notícia recém recebida faz com que o sofrimento se potencialize.

 7) Quanto tempo dá para esperar, depois de recebida a notícia?

Em geral em alguns dias a mãe entra em trabalho de parto, mas pode demorar algumas semanas. O médico poderá solicitar algum exame de sangue para verificar que a mãe continue saudável. Caso haja alterações, a indução será sugerida. Essas alterações são raras, porque o sistema fechado da bolsa mantém o bebê intacto, lacrado, sem bactérias. Não há um aumento de risco de infecção. O útero está fechado e protegido.

 8) Mas tudo o que está no útero não vai se estragar?

Não, tudo fica intacto, se não houver infecção. Se houvesse, os exames de sangue e febre materna apontariam. 

9) Mas como ter um parto normal se o bebê não vai ajudar?

Após a morte do bebê, ele tende a ficar mais molinho, perder a rigidez, o que facilita muito o nascimento. A força das contrações uterinas é suficiente para empurrar o bebê pelo canal de parto. 

10) A mãe pode tomar anestesia no parto normal?

Sim, sem dúvida é uma opção, embora o processo natural também possa trazer muitas vantagens, é fato que algumas mulheres precisem dessa ajuda tecnológica, que deveria estar disponível.

11) Não seria melhor nem mostrar o bebê para os pais?

De forma alguma! O que os olhos não veem, a mente imagina, cria, piora, transforma, fantasia e piora. A realidade é sempre a melhor versão dos fatos. Os pais precisam guardar uma imagem real e concreta do bebê e mesmo sem que as pessoas sugiram, eles sempre procuram ver no bebê as partes mais lindas. Os pais não são obrigados a olhar, mas deveriam ser convidados, e caso recusassem, poderiam ser convidados novamente mais tarde. Mesmo o mais resistente dos casais, em algum momento eles querem ver seu bebê. 

12) O que acontece depois que o bebê nasce?

Do meu ponto de vista, apesar de toda a tristeza envolvida, é importante lidar com naturalidade com essa situação. Os pais amam aquele bebê e querem vê-lo. O bebê pode nascer, ser protegido por tecidos e entregue aos pais para que eles possam abraçar, olhar e chorar o que precisam. Os pais podem querer ver as partes lindas de seu bebê, os pés perfeitos, as mãos, unhas, narizinho, orelhas. Para os pais, é o bebê deles. Portanto é importante tratar como um bebê que viveu lá dentro. Temos que honrar essa vida, ainda que curta. O ideal é oferecer o bebê imediatamente, e aceitar tanto que eles queiram, quanto que eles não queiram ver imediatamente. É importante respeitar as primeiras horas para que eles tenham todo o tempo do mundo para estar com o bebê, ver, olhar, sentir e chorar. Eles podem querer vestir, enrolar em alguma manta especial, rezar ou fazer algum ritual específico que faça sentido para eles. O bebê não pode ser levado do quarto enquanto os pais não estiverem prontos para se despedir. Alguns pais gostariam de ter uma foto do bebê, sozinho ou os três juntos. Não se espante, apenas faça o que eles pedirem. Respeitemos sempre a forma como cada um encara suas perdas. Todas são legítimas, todas fazem sentido.

13) E os profissionais? O que acontece se eles se emocionarem?

Não tem problema se emocionar. Não tem problema chorar junto. Não tem problema. Profissionais são filhos, são pais, tiveram suas próprias histórias. Eles sofrem também e isso não é errado. Os pais enlutados não esperam que as pessoas ao redor não chorem. Eles apenas esperam que as pessoas os ajudem a atravessar essa difícil ponte da despedida mais significativa. 

14) O que acontecerá depois que os pais se despedem do bebê na sala de parto?

Depois disso o corpinho seguirá o caminho mais burocrático, do serviço funerário, cremação, enterro. O pessoal do hospital orienta a família. 

15) A mãe deve ir no enterro/cerimônia de cremação?

Se ela estiver bem, ela pode querer ou não querer. Não tente influenciá-la. Respeite a sua decisão. Dificilmente o pai escapará de encarar a parte burocrática, infelizmente. E isso inclui o enterro ou cerimônia de cremação.

 16) A mãe pode engravidar novamente um dia?

Sim, quando ela se sentir pronta para encarar a maternidade novamente, especialmente se ela teve um parto normal. Esperemos que os profissionais responsáveis pelo parto não tenham feito episiotomia ou fórceps, claro. Primeiro porque não há razão para ambos. Segundo porque a recuperação será infinitamente mais rápida. No entanto é bom lembrar que um bebê não substitui outro. É importante que se encerre o ciclo do luto antes que se comece outro ciclo de vida. O luto pode levar de alguns meses a alguns anos.

Esse texto foi escrito em memória à Rosa, que viveu 37 semanas e era linda. E tinha dedos longos e pés pequenos. E que era a cara da mãe dela. Foi escrito por inspiração pela integridade emocional de seus pais, que me permitiram participar desse triste momento, onde pudemos também, porque não, rir juntos, chorar juntos e ter esperanças juntos. Que eles possam superar essa perda e continuar assim tão lindos e tão íntegros.

Ana Cristina Duarte
Obstetriz

PS: nos EUA há uma organiza,ão que chama “now I lay me down to sleep” de fotógrafos profissionais, voluntários (100% gratuito), que registram este momento único na vida da família. Será a única chance de preservar em imagens a união da família com a criança. As fotos são lindas, tristes e intensas. Eis o site do grupo:

https://www.nowilaymedowntosleep.org/

Link do artigo aqui: http://crisdoula.com/quando-um-bebe-morre-antes-de-nascer-por-ana-cris-duarte/

29 de novembro de 2015

A vida é um Vai e Vem

Na sexta, enquanto dirigia para o trabalho e me perdia nos pensamentos, ouvi pela primeira vez essa música.

Sincronicidade. Reflexão. Sentimentos. Emoção.


Capital Inicial - Vai e Vem 
Compositor: Dinho Ouro Preto e Thiago Castanho

Nem sempre o céu sorri pra mim
Nem sempre eu sou tão livre assim
Quem não pensa em parar
Quem não pensa em fugir

Sem destino
Dá vontade de sair
Sem destino
Sem saber aonde ir

Para onde vai o tempo
Para onde vão os sonhos
Pra onde foi o que eu sentia
De repente
Tudo muda sem aviso
De repente

A vida é um vai e vem
Nada é pra sempre
A vida é um vai e vem
Nada é pra sempre
A vida é um vai e vem
Nada é pra sempre
A vida é um vai e vem

Quanto mais parece o fim
Quanto mais ninguém diz sim
Mas nunca me ensinaram
E eu nunca aprendi

Mesmo assim
Mesmo assim sobrevivi
Mesmo assim
Eu ainda estou aqui

De vez em quando me sinto bem
De vez em quando me sinto mal
De vez em quando tudo igual
De repente
Tudo muda sem aviso
De repente

A vida é um vai e vem
Nada é pra sempre
A vida é um vai e vem
Nada é pra sempre
A vida é um vai e vem
Nada é pra sempre
A vida é um vai e vem
Nada é pra sempre
A vida é um vai e vem

28 de novembro de 2015

Para a Helena, Para o Biel, Para a Yvani

A partida de quem amamos é a maior dor que podemos sentir...

Para essa dor, não há anestesia, não há paliativos...

Quando ouvi essa música, logo pensei nas pessoas queridas que se foram e deixaram saudades.

Três delas, precocemente... Recentemente...

Três lutos seguidos...

Uma música para vocês três, meus queridos.

Sempre nas lembranças,

Sempre em nossos corações.

Obrigada por fazerem parte das nossas vidas

Helena (querida filha)

Biel (querido irmão)

Yvani (querida avó, mãe do meu marido e sogra)

Amamos vocês para sempre!



Por que você se foi assim
Não deu pra entender
É tão díficil aceitar
Perder eu sei 
Por que a vida
Tem que ser assim,
Porque?

Porque, dizer, tantos porques?
Só vai nos machucar, sofrer
Deus está junto a você
E vai te proteger, eu sei
Sei que agora
Já não há mais dor, para você

Tua semente está entre nós.
 E vai crescer e será feliz
eu sei
Que Deus vai nos confortar

Por que você foi assim 
Não deu pra entender
É tão díficil aceitar, perder, eu sei
por que a vida tem que ser assim porquê?

Um dia a gente vai se encontrar
Um dia todos nós 
vamos nos encontrar.

27 de novembro de 2015

Mensagem - Vovô Waldir


 Helena
Não tenho muito a te dizer, mas espero que nessa 
viagem de volta você venha com muita saúde, paz e amor. Estamos te esperando 
com muito carinho e amor.
Te amo e te amarei hoje, amanhã e sempre.
Beijo
Vô Waldir

Chá de Bênçãos da Helena - 05/07/2015

26 de novembro de 2015

Uma família maior?

Querida filha,

Hoje (24/11) a mamãe fez um exame para saber se o útero ficou bem cicatrizado, e se poderíamos ainda planejar uma nova gestação.

Sim, filha... O útero da mamãe pode ser o berço de criação de uma nova vida.

Todos ficamos felizes, inclusive nossa querida médica.

Há muito o que percorrer dessa estrada que nos separou. Lágrimas a serem derramadas, extremamente necessárias para cicatrizar os nossos corações.

Um ano e meio, no mínimo, para decidirmos se seremos apenas nós quatro, ou se aumentaremos nossa família.

Período de reflexão, de "juntar os caquinhos", de renovação, de amor...

O tempo necessário para que eu consiga deixá-la ir, definitivamente.

Porque, como já disse, ainda me despeço todos os dias de você. 

Hoje dormirei tranqüila. Tudo está bem. Tudo permanecerá bem. Tudo ficará bem!

Eu te amo sempre, sempre, sempre...

Beijos no seu coração,

Sua mamãe


25 de novembro de 2015

Desenho

Olá, passarinha!

Eu pedi para seu irmão fazer um desenho bem bonito para você.

Olha só o que ele "aprontou":


Perto dos seus pés, está a sua "comidinha". Embora de olhos fechados, ele disse que você está acordada dentro da minha barriga.

E agora, vai um recadinho dele só para você:

"Oi Helena tudo bem, eu te amo e você me ama.O meu coração se partiu quando eu ouvi que você morreu. A vida aqui na terra é tão legal.Beijo e boa-noite. Henrique."

Beijos da mamãe e do papai também!

24 de novembro de 2015


"Dispor da semente significa ter o acesso à vida. Conhecer os ciclos da semente significa dançar com a vida, dançar com a morte, dançar de volta à vida. A natureza da Mulher Selvagem nas mulheres é a da mãe da vida e da morte em sua forma mais antiga. Como gira nesses ciclos constantes, eu a chamo de mãe da vida-morte-vida. Se algo está perdido, é a ela que devemos recorrer, com quem devemos falar,
a quem devemos prestar atenção. 
Seus conselhos psíquicos são às vezes ásperos ou difíceis de pôr em prática, mas sempre tem a capacidade de transformar e de restaurar."

Clarissa Pinkola Estés
Mulheres que Correm com os Lobos
~ La Loba ~

20 de novembro de 2015


Ó, pequena poça

enraizada

Que eu possa fincar raízes

nas águas empoderadas

do meu jardim

19 de novembro de 2015

Os quatro elementos

Passarinha,

Hoje quero recordar quando eu, você e seu irmão cantávamos essa música.

Sempre na ida ao Colégio, e também na volta.

Momentos de alegria e amor pela vida!

Te amo,

Te amo,

Te amo...

 

18 de novembro de 2015



Eu trilho o caminho
ou ele me trilha?

No gelado concreto
vivem pequenas florestas

Sobre florestas jazem
Folhas

Levadas no próximo vendaval
Lavadas na próxima chuva

16 de novembro de 2015

Contentamento

Minha querida...

Faz dois dias que sinto contentamento em minha alma. Contentamento por nada. Contentamento por tudo.

E é muito bom me sentir assim. Nunca sei quando serei arrastada pela próxima onda de saudade de você. Então, resolvi aproveitar cada segundo de sol e alegria no meu coração. Por você, por mim, e por todos aqueles que amo.

Ontem a mamãe brincou na piscina com seu irmão e sua prima.

Foi muito divertido! E até me emociono de lembrar.

Rimos, mergulhamos, contamos histórias, "fizemos de conta" de sermos sereias, reis, rainhas, príncipes e princesas. E eu senti sua presença conosco. 

Vamos brincar, passarinha, quando nossas almas assim desejarem? Promoveremos grandes encontros de amor e alegria.

Eu te amo muito... Com toda a amplidão do infinito.

Beijos e massagens nos pés,

Sua mamãe

13 de novembro de 2015

A canção da alma

Teve uma noite em que eu cantei a canção da Helena...

Mas eu me esqueci.

Deveria ter gravado, pois ela veio da alma. Assim como a do Henrique, que intuí logo após sair da Maternidade (não com essa compreensão, é claro, mas é uma canção apenas dele).

Acho lindo que um povo valorize a chegada de um ser, mesmo quando ele ainda é "potência de ser" no ventre da mãe.

O texto abaixo é para as pessoas de alma sensível, que reverenciam o brotar da vida, seu desabrochar e inevitável morrer. Aprendizados.

"Quando uma mulher de uma certa tribo na África sabe que está grávida, se isola na selva com outras mulheres e, juntas, rezam e meditam até que lhes venha a canção da criança. 

Sabem que cada alma tem sua própria vibração que expressa sua particularidade, unicidade e propósito. As mulheres cantam a canção e a cantam em voz alta. Logo retornam à tribo e ensinam a canção a todos as pessoas. Quando a criança nasce, a comunidade se junta e canta sua canção.

Quando a criança começa sua educação, o povo se junta e lhe canta sua canção. Quando inicia a vida adulta, o povo se junta novamente e canta sua canção. Quando chega o momento de seu casamento, ela escuta sua canção. Finalmente, quando chega a hora da sua alma ir para um outro mundo, a família e os amigos se aproximam de sua cama e, assim como no seu nascimento, cantam sua canção para acompanhá-la na sua transição.

Nesta tribo da África há uma outra ocasião na qual o povo canta a canção. Se em algum momento durante sua vida a pessoa comete um crime ou um ato social agressivo, se leva a pessoa até o centro do povoado, todos formam um círculo ao seu redor e cantam sua canção.

A tribo reconhece que a correção para as condutas anti-sociais não é um castigo e sim o amor e a recordação de sua verdadeira identidade. Quando reconhecemos nossa própria canção, já não teremos desejos nem necessidade de fazer nada que possa prejudicar os outros. Teus amigos conhecem a tua canção e a cantam quando a esquecer. Aqueles que te amam não podem ser enganados pelos erros que cometes ou pelas escuras imagens que mostras aos demais. Eles recordam a tua beleza quando te sentes feio; tua totalidade quando estás partido; tua inocência quando te sentes culpado, e teu propósito quando estiveres confuso.

Não necessito uma garantia assinada para saber que o sangue de minhas veias é da terra e sopra em minha alma como o vento, refresca meu coração como a chuva e limpa minha mente como a fumaça do fogo sagrado."

* Texto de Tolba Phanem: mulher, poetisa, africana, defensora dos direitos civis das mulheres africanas.

12 de novembro de 2015

Meditação da Lua Nova - 11/11

Lua da concepção...


Um ano depois,

lua da intenção

de deixar o sofrimento e ficar com o amor.


Energia de conexão com o todo, 


Harmonia

Paz

Gratidão



11 de novembro de 2015

10 de novembro de 2015

3 meses

Há 3 meses você partiu, passarinha...

Dia de dor, dia de lembranças, dia de amor.

Algumas frases e palavras brotaram do meu coração ao vê-la nessa foto, tão próxima e ao mesmo tempo tão distante de nós:

Amor profundo

A caçulinha da família

Rosa do nosso jardim

Gratidão

Luz das nossas vidas

A princesinha do papai

Anjo em forma de bebê

Beleza

Irmã amada do Henrique

Esperança

Minha gorduchinha

Paz

Elo com Deus

Infinitamente amada

Alegria

Desde sempre desejada

Passarinha

Eternamente em nossos corações


Todos os dias, procuro fazer da experiência da sua perda uma das mais bonitas das nossas vidas.

Mas é claro que eu preferia que estivesse aqui, aninhada em nossos braços.

Querida, receba muita luz e amor nesse dia especial.

Uma chuva de bênçãos para você, hoje e sempre!

Nós te amamos,

Sua mamãe, papai e irmão

9 de novembro de 2015

O amor é tudo o que temos

Não encontrei apenas a San em meu caminho, e seu bebê lindo. (leia aqui)

Mas muitas mulheres lindas eu conheci, em razão da partida da Helena.

Iaçanã é uma delas. Já trocamos mensagens em nossos blogs, e já nos emocionamos com todo amor que nutrimos por nossos filhos.

Eu me curvo à sabedoria de suas palavras: "o amor é tudo o que temos".

Sim, querida... É tudo o que temos, e é o suficiente para que a vida valha a pena. 

Desejo com toda a força do meu coração que supere cada dia longe do seu pequeno Samuel. Você tem a alma grande, é linda e guerreira. 

Samuel, além de se sentir extremamente amado, certamente tem muito orgulho de você.

Um beijo em seu coração,

Carol


Do Blog da Iaçanã - "Ao meu filho"


Eu não te amamentei.
Eu não saí da maternidade com você em meus braços.
Eu nunca coloquei nenhuma roupinha em você.
Não dei banho.
Não montei seu quarto.
Não carreguei no colo.
Não abracei.
Não vi seu sorriso.
Não consegui ver você por completo no ultrassom a partir da 13º semana.
Não fiz um monte de coisas...
Sabe filho, o amor é tudo que temos!!!

Iaçanã Woyames

8 de novembro de 2015

Mensagem - vovô Marcos


Helena, 
hoje você deve ter ouvido um som
 mais agitado que o normal. 
É que estamos no esquenta, aguardando a sua chegada.
Com carinho do seu avô.

Beijos

Chá de Bênçãos da Helena - 18/07/2015

7 de novembro de 2015

A Exilada

Eu ganhei esse livro da minha avó (materna) Auzenda há aproximadamente 15 anos...

Ela me recomendou, com um brilho no olhar, que eu o lesse porque era muito bonito e a história se desenrolava na China.

Imaginei que o interesse especial era pelo fato do seu pai ter estudado naquele país asiático. De forma curiosa, sempre que começava o romance, algo mais interessante se apresentava e eu abandonava a leitura.

No luto, eu me recordei dele. Gosto muito do estilo de Pearl S. Buck, e eu buscava uma leitura fácil mas recheada de sabedoria feminina. Eu me deleitei disso com o seu outro romance "Pavilhão de Mulheres", então achei que era o momento.

Bom, o livro é a biografia da mãe de Pearl. Uma norte-americana que, após o casamento, muda-se com o marido para a China com um objetivo missionário cristão. 

Eu jamais o recomendaria para uma mãe que perdeu o filho.

Fiquei muito emocionada ao me deparar com a morte de quatro dos seus sete filhos, em tenra idade. Todos por motivo de doença, e em momentos diferentes. Questionei-me: "que mulher suportaria?"

Ela suportou, como muitas outras suportaram e ainda suportarão.

Eu me solidarizei não só com a sua dor, mas também com seu breve momento de revolta e reconciliação com Deus.

No final, refleti sobre a vida que teve. Na grande mulher que foi, embora jamais tivesse acreditado nisso. Sinto que muitas mulheres passam a vida sem enxergar o seu real valor e o quanto fizeram a diferença na vida daqueles que a rodearam.

Mas, pensando bem, aquelas que não têm essa humildade, certamente não são mulheres de "almas largas", não é?

Eu senti a presença da minha avó em toda a leitura. 

Não posso perguntar a ela do que mais gostou, pois já fez sua "grande viagem". Mas imagino que, além de entrar em contato com os costumes de um povo com o qual seu pai conviveu por certo período, reconheceu-se numa mulher que dedicou a vida em nutrir sua família de amor e cuidados.

Também me reconheci nessa história. 

Entrar em contato com a vida de uma mulher se desenrolando aos meus olhos, com todas as alegrias, tristezas, sofrimentos, batalhas, amores, e sabê-la real, fez-me compreender que, de fato, a graça da nossa existência está na paradoxalidade do que enfrentamos.

De repente eu compreendi que é assim mesmo. E que as cicatrizes do nosso coração podem nos fazer portadores de mais sabedoria.

A vida de quem foi sensível às diversas dores que enfrentou, pode ser de uma simplicidade reconfortante. Simplicidade de anseios, quero dizer.

Carie (a nossa protagonista aqui), nutria-se da beleza de tudo que a cercava ao se deparar com momentos de extrema dificuldade. E conseguia extrair alegria das coisas mais simples, para a sua cura. Ela usa muito essa palavra: "cura".

A palavra que me acompanha nesse momento especialmente difícil.

Concluí que "a cura" das minhas feridas depende de tempo, mas também de um olhar atento para meu interior. 

Restou-me responder a pergunta: "o que nutre a minha alma?".




6 de novembro de 2015

Perda gestacional humanizada

As tirinhas abaixo podem oferecer uma visão da realidade de quem vivencia a perda gestacional ou neonatal no nosso país (e em tantos outros pelo mundo).

Tenho muita gratidão pelas profissionais que nos acompanharam. Posso dizer que eu tive uma "perda gestacional humanizada".

E antes que alguém torça o nariz, dizendo que não tem como algo vindo do homem ser "desumano", digo que isso é plenamente possível.

Tenho inclusive uma crônica da Clarice Lispector que traz luz a esse tema, e que está guardadinha para o momento em que eu finalizar o meu texto sobre o que foi inesperadamente doloroso na partida da Helena.

Tudo em razão da falta de preparo de alguns profissionais em lidar com a morte. 

Tudo em virtude de algumas pessoas terem estacionado no processo de "se tornarem humanas".

Decidi abstrair essa experiência do meu relato porque entendo que o tema merece um texto à parte... Nesse quem falará é a ativista, e não a mãe ferida...



5 de novembro de 2015

Por que partiu tão cedo?

Faço parte de um grupo de perda gestacional, e estar em contato com tantas mulheres, tantas histórias, tantas dores, fortalece.

Fortalece porque vejo nelas amor e beleza. Os mesmos sentimentos que envolvem a nossa história com a Helena.

Eu me sinto acolhida, e lá não tenho pudor em desnudar minha alma e meu coração feridos.

Uma das fundadoras do grupo é a Bel Cristina. Tão sensível em suas palavras que logo quis saber se ela havia passado pela mesma experiência que eu.

Então, ela me direcionou para a mensagem abaixo onde tudo explica e esclarece... E onde me fez entrar em contato com palavras tão lindas e profundas provenientes da pergunta "Por que partiu tão cedo?". A pergunta que me faço todos os dias, a pergunta que deu origem ao grupo do Facebook que hoje me oferece apoio emocional:
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Postado por Bel Cristina no Grupo do Facebook "Por que partiu tão cedo?"

- Após a matéria refleti sobre e achei por bem postar aqui o que desencadeou a necessidade de falar sobre o assunto, tão sufocado, com um 'silêncio imposto'. Onde vejo que as pessoas não conseguem lidar com suas próprias emoções, daí a dificuldade de lidar com a do semelhante.

Adiciono aqui a carta que deu origem a esse grupo, após ter acompanhado o parto de uma pessoa/família, muito querida anteriormente, que já sabiam que seu bebê era especial ainda na gestação. Que poderia partir a qualquer momento. Ainda assim o casal decidiu levar adiante a gestação. E, esse bebê, nasceu, ficando entre nós por volta de 40 minutos e foi partindo. De forma 'suave', junto a todos ali presente. Em silêncio, todos abraçando essa nova vida que chegou e partiu tão 'precocemente'. Após esse acompanhamento veio outro, tempos depois. Onde o casal nos convidou a orar junto com eles. E, fizemos uma prece. Todo ambiente aqueceu-se. Ainda que fosse triste, teve a beleza, a nobreza de assistir esse casal junto a seu bebê. A prece, independente da religião, pode nos proporcionar esse conforto, apoio. E, após essa partida, surgiu o grupo. Quesia, Rosa e vossas famílias, meu terno e grato abraço.

Onde, através da Rafaella Biasi Gimenes, tive o prazer de encontrar Renata Duailibi e Ana Lana e, juntas nos identificamos, percebendo a necessidade de nos unir em prol de ampliar a Rede de apoio - Abraço Solidário. Sem esquecer do Renato Janone, pessoa incomum as nós 03 e, grande incentivador desse acolhimento.

Então, o grupo passou a não ser mais somente um sonho meu, mas de todas as famílias que comungam do mesmo sentimento. E, com muito respeito, compartilho com vocês, pois no início, até comentei. Depois muitas adentraram e não sabem como o grupo aconteceu.

- OBS - Participei de uma palestra e ouvi de uma pajé - que seu povo não fala 'morte', não acreditam nela. Mas, sim, fazem uma 'viagem'. Onde aprendem a respeitar a memória de seus entes queridos. Sabedoria de um povo massacrado, sufocado e, que lutam para manterem-se. Poder aprender com eles resgatar o respeito a vida, mesmo diante da 'viagem'. Que possamos resgatar nova riqueza de valores e fazer de toda nossa experiência de vida, uma possibilidade de transformação.

Esse bebê partiu 08/05/2013, com 32s5d. E, escrevi após chegar em casa:

Por que partiu tão cedo?
Por que os bebês se vão mesmo antes de chegar?
Acompanhar esse desfecho sem se envolver é algo, extremamente, delicado.
Ter tal oportunidade de ter nos braços esse 'anjinho', que não esta mais entre nós, fisicamente, falando, mas que em Essência vibra somente o desejo de tê-lo de volta.
Ver o quanto pode ser doloroso, mas 'encantador', por tamanho amor.
Agora, somente, agora me cai essa ficha... tive você em meus braços, seu corpinho já inerte, mas que emanava tanto amor.
Emanava calor, ainda que frio.
Como posso sentir isso?
Como posso senti-lo com tanta intensidade?
Se 'existe' Deus, Ele está nessa hora.
Ele representa esse momento,tão doloroso e, ao mesmo tempo, tão sublime.
A dor quis dilacerar-me, mas olhei para seu rostinho, tão pequenino, tão delicado, teu corpinho e, não pude, não pude deixar de encantar-me por você.
De vê-lo, de senti-lo, de segurá-lo, fortemente, em meus braços.
Acho que ainda não consigo ser imparcial, que ainda preciso aprender muito com tantas outras mulheres-casais para ser além da 'dor'.
Deus, como é forte, como é intenso.
Só agora me permiti sentir, chorar, chorar...
Chorar um choro de dor, de encantamento, de desilusão, enfim... as lágrimas rolam soltas, livres, sem pudor, sem revolta.
Estava anestesiada ou fora de mim?
Afaguei tua fronte, senti teu cheirinho - tão marcante, tão seu - tão meu, e, após longo tempo tive que deixá-lo, tive que soltar-me de ti.
Como aprendo com tantas famílias.
Meu respeito, admiração, reverência a todas as mulheres-casais que passaram, que estão passando e que, infelizmente, passarão por tal vivência a 'perda' de seu bebê, tão desejado, amado. 
Não, não me digam que não devo chorar, pois ainda poderei ter outros.
Não, não me digam que dos males o melhor, que eu me salvei...
Não, não me digam...
Deixem-me chorar essa dor, esse luto, pois em Essência, independente do tempo, esse bebê esteve comigo, esteve em meus sonhos, visitou-me no meu dia a dia.
Então, não me diga para não chorar, para não viver esse luto. Pois, é esse mesmo luto que me fará, não sei em que tempo-momento, superar, 'virar a página'.
Esse bebê vive, vive em Essência, no ar que respiro, no nascer do sol, no por do sol.
Curvo-me em silêncio e respeito a esse casal que honrou-me com esse abraço caloroso, num nascimento digno, respeitoso ao filho amado que partiu antes mesmo de estar conosco. 
Bebê fique em paz, nos braços de Deus, assim como tua família.
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Merece ser dito que a carta que Bel Cristina escreveu, expressa tudo o que sinto no coração nesse momento.


4 de novembro de 2015

Prece

Grande Pai e Mãe,
Rogo força e sabedoria diante da dor.
Sinto que muitas vezes eu me perco em lágrimas sufocantes
e fico angustiada diante da tristeza de não ter conhecido minha filha viva,
a minha pequena Helena... nossa pequerrucha...
Não sei nada dos Vossos propósitos,
e talvez não seja pertinente saber.
No entanto, sinto Vosso amor nutrindo meu coração.
E sinto gratidão  por todas as bênçãos de minha vida.
Mas, qual a origem dessa dor que tanto me fere e atordoa?
Jamais pensei existir algo tão grande e profundo.
No entanto, meu Pai e minha Mãe,
ela me acompanha diariamente.
Deem-me forças para suportá-la,
e ajudem que dela cresça algo maior dentro de mim.
Algo inatingível.
Um amor e alegria pela vida inabaláveis,
posto que nascidos da agonia mais intensa do meu ser...
A agonia que traz a compreensão e também devoção
por tudo o que é Luz!


3 de novembro de 2015

Luto é um processo, não um evento

MARIA HELENA PEREIRA FRANCO
ESPECIAL PARA A FOLHA 

A SAUDADE nos leva a visitar a relação que tínhamos com nossos queridos que faleceram. 

Essa visita nos fala ou relembra aquilo que dá significado à vida para muitas pessoas: a existência de um vínculo forte com alguém que, quando rompido, gera o luto. Falar de luto hoje é falar das nossas possibilidades de fazer, desfazer e refazer laços. 

Não podemos falar com precisão sobre uma sequência de fases do luto. A pessoa enlutada, com frequência, encontra outras que adotaram crenças rígidas sobre o que deve ser experimentado nessa jornada ao longo do luto. 

Essas crenças podem afetar profundamente o processo individual natural. Podemos encontrar respostas de desorganização, medo, culpa mas também podemos não encontrá-las. As emoções podem seguir-se umas às outras com intervalos curtos ou até mesmo duas ou mais emoções podem estar presentes ao mesmo tempo. 

Cada pessoa fica enlutada de sua maneira. O luto é uma experiência pessoal e única. 

Como resultado dos valores contemporâneos, as pessoas enlutadas são encorajadas a rapidamente deixar para trás o luto. Como resultado, temos duas situações: ou o enlutado vive seu processo isoladamente ou se força a abandoná-lo, antes mesmo de tê-lo completado. Amigos e familiares, bem-intencionados, mas desinformados, tentam fazer com que a pessoa enlutada desenvolva autocontrole, entendendo que essa é a resposta adequada. 

As pessoas se perguntam quanto tempo dura o luto, como uma confirmação de que estão no caminho certo. Essa pergunta é diretamente relacionada à impaciência que nossa cultura tem com o pesar e o desejo de sair logo da experiência do luto. Um exemplo disso é a pressão que o enlutado sofre, logo após a perda, para voltar à atividade normal. 

O luto passa a ser visto como algo a ser evitado, e não como algo que precisa ser vivido e que trará possibilidades de reconstrução. Mascarar ou fugir do luto causa ansiedade, confusão e depressão. 

Viver o luto não significa passar por ele, significa crescer por meio dele, para renovar o senso de confiança e a energia, para reconhecer a realidade da morte e a capacidade de se tornar envolvido novamente. O luto é um processo, não um evento. 

Além de entender na mente, vai entender no coração: a pessoa amada morreu. A dor sentida vai deixar de ser onipresente e aguda para se transformar em um sentimento de perda que pode ser admitido e que dá vez a um significado e um propósito renovados. 

Embora a pessoa que morreu jamais venha a ser esquecida, a vida pode e deve continuar a ser vivida. A perda é para sempre, o luto não. 

MARIA HELENA PEREIRA FRANCO é psicóloga, professora titular da PUC-SP e coordenadora do LELu (Laboratório de Estudos e Intervenções sobre o Luto), da mesma universidade.

1 de novembro de 2015

"A vivência de uma perda significativa pode ser transformadora e enriquecedora. 
Elaborar a perda implica defrontar-se com a impotência e limites, 
com o fato de que o mundo e os seres queridos não estão sob nosso controle. 
Em última instância, significa depararmos com a possibilidade do limite total, a morte. 
No entanto, é também uma oportunidade de descobrir vida e potência: capacidade de amar, enfrentar o profundo sofrimento de forma integrada e criativa, crescer com essa experiência."


31 de outubro de 2015

Chocolate

Oi, minha querida!

Mamãe está com muitas saudades.

Eu te amo tanto, tanto...

Lembra quando comíamos nosso "BIS" escondidinhas na volta do trabalho?

Ríamos juntas dessa pequena travessura... Chocolate antes do jantar não era coisa pra mamãe ensinar, não é verdade?

Mas eu achava engraçado e sinto que também se divertia com isso.

Você tem gostinho de "BIS XTRA", passarinha!

E é bom relembrar e reviver esses momentos. 

Um brinde ao que vivemos juntas!

Com muito amor,

Sua mamãe

30 de outubro de 2015

O corpo de uma mãe do silêncio

Os últimos dias foram de angústia.

É estranho porque não consigo pensar exatamente em algo que possa ter iniciado sentimentos tão sombrios. Talvez o relato do meu parto tenha mexido comigo de uma maneira que não imaginei. Talvez a carga hormonal pela menstruação que veio tenha potencializado o meu luto. Provavelmente os dois...

No entanto, se escrevo agora é porque já saí do túnel e respiro de forma mais suave.

Para minhas irmãs de alma que também tiveram filhos do silêncio, quero dizer que me solidarizo com a difícil recuperação do seu corpo.

Somos aquelas que não conseguimos abstrair a difícil realidade dos nossos bebês sem vida. Ela está marcada no corpo cicatrizado, nas dores de sua recuperação, na linha negra do abdômen, no seio que verte leite...

Sentimos a tristeza por tudo isso ser em vão.

Não nos importaríamos com a flacidez e inchaço do nosso ventre, se nossos filhos estivessem nos braços.

Não nos importaríamos de nos sentirmos sem a beleza de antes, com nossos bebês requerendo cuidados.

Simplesmente não nos importaríamos...

Mas aqui estamos, na difícil luta diária da recuperação por um parto ou cirurgia que não teve o significado que desejávamos. E na difícil arte de conviver com a dor emocional materializada de maneira tão fiel em nosso corpo.

Jamais tinha me deparado com essa dor. E agora sou a própria experiência dela.

27 de outubro de 2015

Nego submeter-me ao medo, 
Que tira a alegria de minha liberdade, 
Que não me deixa arriscar nada, 
Que me torna pequeno e mesquinho, 
Que me amarra, 
Que não me deixa ser direto e franco, 
Que me persegue,
Que ocupa negativamente a minha imaginação, 
Que sempre pinta visões sombrias.
No entanto, não quero levantar barricadas por medo do medo. 
Eu quero viver, não quero encerrar-me. 
Não quero ser amigável por medo de ser sincero.
Quero pisar firme porque estou seguro.
E não porque encobri meu medo.
E quando me calo, quero fazê-lo por amor. 
E não por temer as consequências de minhas palavras. 
Não quero acreditar em algo só por medo de acreditar. 
Não quero filosofar por medo de que algo possa atingir-me de perto.
Não quero dobrar-me só porque tenho medo de não ser amável. 
Não quero impor algo aos outros, pelo medo de que possam impor algo a mim. 
Por medo de errar não quero tornar-me inativo. 
Não quero fugir de volta para o velho, o inaceitável, por medo de não me sentir seguro no novo.
Não quero fazer-me de importante porque tenho medo de que senão poderia ser ignorado. 
Por convicção e amor quero fazer o que faço e deixar de fazer o que deixo de fazer.
Do medo quero arrancar o domínio e dá-lo ao amor.
E quero crer no reino que existe em mim.

Rudolf Steiner

26 de outubro de 2015

Mensagem - vovó Mônica

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"Que a minha querida netinha Helena, 
seja a junção de todas as bençãos do universo,
 e que Cristo seja o seu mestre!!!"
Vovó Mônica 

Chá de bênçãos da Helena - 18/07/2015

25 de outubro de 2015

Aconteceu assim...

No dia 23/10, publiquei o relato do que aconteceu com a Helena e como enfrentamos tudo (leia aqui).

Foi muito difícil relembrar. Parece que senti cada momento com a mesma intensidade.

Uma das lacunas que ficou dentro de mim foi a interrupção do parto. Uma sensação de não ter conseguido terminar algo que já havia começado. Claro que foram por circunstâncias fora do meu controle, mas ficou esse buraco dentro de mim.

Após finalizar todo o meu relato, na mesma noite eu sonhei... Sonhei com o meu parto. Eu consegui trazer ao mundo o corpinho sem vida da Helena.

Foi tranqüilo e pleno. Não havia tristeza. Apenas o nascimento daquela que amo infinitamente, e o desejo de sentir a sua pele e ver cada detalhe do seu lindo corpo.

Depois que meu irmão caçula morreu, sofri por não ter a possibilidade de me despedir e dizer o quanto o amava. Fui agraciada com um sonho vívido em que fazia isso.

Para mim, ambos os sonhos não aconteceram por acaso.

Foi a possibilidade de vivenciar aquilo que, embora não me tenha sido concedido fisicamente, assim o foi espiritualmente.

Agradeço a Deus por me presentear com a despedida tão desejada da minha querida filha.