30 de abril de 2016

Por cesárea eu pari

Eu penso que, quando vem uma experiência como a que estou vivenciando, é preciso olhar para todos os ferimentos que sangram.

Um deles foi precisar me submeter novamente a uma cirurgia. Embora dessa vez tenha sido realmente necessária, foi difícil absorver que meu corpo chegou a um limite intransponível. E que, por conta disso, fui privada de enterrar a passarinha.

Recebi na minha Timeline a mensagem abaixo, que foi muito curativa. Bela, poética e singela. Tenho duas cicatrizes de amor. Que sejam abençoadas. 

Eu as amo, porque através dessa porta chegaram meus filhos tão queridos e amados, Henrique e Helena.




Yo parí por cesárea, 
y por cesárea yo parí. 
Y se creó la puerta sagrada, 
Para ti y para mí. 
Y pongo las manos en mi vientre, 
y susurro para mí: 
Gracias cicatriz querida, 
por lo mucho que aprendí. 
Yo parí por cesárea, 
y por cesárea yo parí. 
Y honro este portal de vida, 
por donde yo renací.
Como madre, como hija, 
como mujer sin fin. 
Gracias cicatriz querida,
por formar parte de mí. 
Porque tu custodias bien, 
el dolor que padecí. 
Un dolor que hoy yo transformo 
En sabiduría para mí. 
Yo parí por cesárea, 
y por cesárea yo parí. 
Gracias cicatriz querida, 
tú y yo unidas al fin. 
Y mi parto fue digno y bueno, 
y mi parto me enseñó, 
a inclinarme ante la vida 
más allá de mi corazón.

Tradução:

Eu pari por cesárea,
e por cesária eu pari.
E se criou a porta sagrada,
Para ti e para mim.
E ponho minhas mãos em meu ventre,
e sussurro para mim:
Gratidão, querida cicatriz,
pelo tanto que aprendi.
Pari por cesárea,
e por cesárea eu pari.
E honro este portal de vida,
por onde eu renasci.
Como mãe, como filha,
como mulher sem fim.
Gratidão, querida cicatriz,
por formar parte de mim.
Porque tu guardas bem,
a dor que padeci.
Uma dor que hoje eu transformo
Em sabedoria para mim.
Pari por cesárea,
e por cesárea eu pari.
Gratidão, querida cicatriz,
tu e eu unidas ao fim.
O meu parto foi digno e bom,
o meu parto me ensinou,
a inclinar-me perante a vida
além do meu coração.

29 de abril de 2016

Com o tempo, melhora...

Melhora a dor sufocante.

Dá para respirar... Para começar a sonhar novamente.

Cada história é uma história. 

Mas o importante é manter a fé na vida e no amor. Foi onde me agarrei desde o início.

Quando desmoronamos, a grande chance que temos é a da reconstrução. A possibilidade de se refazer deixando de lado aquilo que não queremos mais. 

Esse é o meu processo atual. Reconstrução, limpeza, conexão.

O grupo Acolher & Viver foi concebido e permanecerá crescendo. Para que nenhuma família passe sozinha por essa dor permeada de tantos tabus. Para que a mãe ou o pai possam escolher se precisam do apoio de quem vivenciou algo similar, ou se preferem prosseguir sozinhos.

Um espaço para que profissionais possam se sensibilizar e, talvez, agirem de forma diferente nas situações que não estão sob seu controle. Um chamado para quem deseja saber sobre histórias de amor.

Há muitos projetos em andamento na minha vida.

Projetos bonitos, que vêm do meu coração... Da minha alma...

Paradoxalmente, a Helena vai se tornando cada vez mais presente. Não precisa muito para eu sentir sua energia. Eu a conheço muito bem, embora nunca tenhamos trocado um olhar.

Sinto que exerço a minha maternidade, ainda que estejamos separadas. Nós nos amamos.

Que os caminhos se abram e a vida flua em abundante amor.


14 de abril de 2016

Cantando

Essa tarde, ao voltar para casa, tocou uma música do Grupo Revelação.

E eu me deixei levar pelas batidas e melodia... cantei alto... batuquei no volante do carro...

Quando me dei conta, pensei: "uau! eu estou mesmo cantando?"

Caiu a minha ficha de que há oito meses eu não canto alto, não me deixo levar pela música, e não me alegro de verdade com algo tão simples mas que sempre me deu muito prazer...

Foi incrível, porque espontâneo. Foi mágico, porque aconteceu sem eu perceber. Fiquei muito emocionada ao notar que a alegria e a esperança ainda pulsam dentro de mim. Entenda a palavra "emocionada" com "chorei de emoção" (literalmente!).

Algo muito estranho no luto é que, da mesma maneira que você vai ao fundo do poço, você pode, pouco depois, subir aos céus da alegria.

Ontem comentei com a minha terapeuta que me sinto "multipolar" nesse movimento.

Mas tenho procurado respeitar meus avanços e recuos sem culpas.

Hoje foi um dia alegre: vibrei e cantei.

Amanhã... Quem sabe?

Se for tempestade, que seja breve... Que passe...



Grades do Coração
Grupo Revelação

 Quando eu te vi pela primeira vez
Me encantei com o seu jeitinho de ser
Seu olhar tão lindo me fez viajar
Vi no seu sorriso imenso mar

Fiz uma canção pra nunca esquecer
O momento em que eu conheci você
Era uma linda noite de verão
Você despertou minha emoção

Passei a minha vida a procurar
Alguém que eu pudesse entregar
A chave para abrir meu coração
Tirar de vez do peito a solidão

Já tentei, não dá para esconder
O amor que sinto por você
É luz, desejo, encanto e sedução
Ardente como a fúria de um vulcão

A paixão me pegou
Tentei escapar, não consegui
Nas grades do meu coração
Sem querer eu te prendi

13 de abril de 2016

A Costura da Vida

Seguindo o movimento de desatar, desembaraçar, desenrolar... Apareceu-me essa bela música.

Boa de dançar, boa de cantar, boa de sentir!


Costura da Vida
Quatro Cântaros

Eu tentei compreender a costura da vida
Me enrolei, pois a linha era muito comprida
Eu tentei compreender a costura da vida
Me enrolei, pois a linha era muito comprida

Como é que eu vou fazer para desenrolar
Para desenrolar
Mas como é que eu vou fazer para desenrolar
Para desenrolar

Se linha do céu sou estrela
Na linha da terra sou rei
Mas na linha das águas sou triste
Pelo fogo que um dia apaguei

Se linha do céu sou estrela
Na linha da terra sou rei
Mas na linha das águas sou triste
Pelos mares que não naveguei

Como é que eu vou fazer para desenrolar
Para desenrolar
Mas como é que eu vou fazer para desenrolar
Para desenrolar

Por isso eu não deixo de caminhar
Não deixo de procurar
Por isso eu não deixo de caminhar
Não deixo de procurar
Por isso eu não deixo de caminhar

10 de abril de 2016

8 meses - Maria Desatadora dos Nós

Hoje completam oito meses que a Helena se foi.

Nesse mês eu descobri uma estranha coincidência em toda nossa história.

Pouquíssimo tempo antes de engravidar, ganhei uma medalha e uma vela da Nossa Senhora Desatadora dos Nós.

Não sei exatamente o que isso significa; de qualquer maneira creio profundamente que é preciso deixar fluir... A dor, o amor, a saudade, a esperança. E confiar na Mãe protetora e acolhedora que sabe fazer o que deve ser feito. Que tem a capacidade de identificar os grandes nós da vida, e desatá-los.

Que seja desatado o nó que nos levou a Helena, e todos os outros que me impedem de estar em contato com o Amor Maior.


"Mãe Nossa, rogo-te que esta vela que hoje estou acendendo, seja a LUZ para que Tu me ilumines em minhas dificuldades e em minhas decisões... Seja FOGO para que Tu queimes os nós da minha vida. Seja CHAMA para que Tu aqueças meu coração. 
Eu não posso ficar aqui por muito tempo, mas deixando arder esta vela, deixo um pouco de mim mesmo para te honrar e ficar diante de Tua presença.
Ajuda-me a prolongar minha oração nas atividades deste dia. Amém"

Maria, Aquela que desata os nós
Livrai-nos de todo mal, Senhora Nossa e desfaça os nós que impedem de nos unirmos à Deus.

(essa prece está na vela que ganhei)



8 de abril de 2016

Caminhadas

Voltei a fazer minhas caminhadas matinais...

Para emagrecer, para fortalecer os músculos e manter minha pressão estabilizada. Mas também porque durante a gestação da Helena eu havia me comprometido em cuidar mais do meu corpo.

Só que não tem sido fácil, pois me recorda os momentos que passamos juntas. Eu me conectava bastante com ela e comigo. Conversava. Refletia. Imaginava como seria nosso parto. Como seria o seu rosto. Como ficaria emocionada no seu nascimento.

Sonhava como seria a nossa família de 4 pessoas. Uma felicidade completa! Eu caminhava e ao mesmo tempo flutuava de amor e esperança no futuro.

Eu até tentei fazer outras rotas, ou outro tipo de exercício. Mas eu gosto mesmo é de caminhar ao ar livre, e no mesmo bairro em que andava com a Helena.

Sabe... Ao caminhar, às vezes choro sozinha. Vendo um bebê passeando na rua com sua mãe, lembrando de como éramos felizes juntas. E durante um desses momentos de reflexão e tristeza, percebi o quanto tenho me esforçado para me manter "na superfície".

É um verdadeiro trabalho diário de me manter respirando, sem afundar na dor.

Por um breve momento, após esse insight, eu tive pena de mim. Pena por esse revés da vida que me machucou profundamente. Mas pensei: "bem, eu posso estar numa luta diária para respirar, mas quando respiro absorvo a vida em sua inteireza. Absorvo-a bela e rude. Absorvo-a com suas luzes e sombras".

Algo mudou dentro de mim depois da morte da Helena. Jamais serei a mesma, e hoje não posso dizer quem sou de verdade.

Mas aprendi uma lição: embora os acontecimentos  possam ser extremamente cruéis conosco, quando sobrevivemos a eles ganhamos em vitalidade. O ar entra melhor no pulmão. A expiração é mais suave e presente. Enfim, conhecemos uma faceta da existência muito especial.

Seguirei em minhas caminhadas, pois sei que tenho muito a aprender com elas.

Eu e a Helena nos amamos para sempre.

4 de abril de 2016

Nina

Há algum tempo eu percebi que não existe algo em que poderei me agarrar, com o poder de tirar definitivamente a dor que sinto.

Em alguns posts anteriores eu falei sobre os "remédios para o luto". 

Se pudesse dar um conselho para alguém que acabou de passar por uma perda difícil seria esse: encontre seus remédios e, se não encontrá-los, fique tranqüila(o) que eles chegarão até você.

Falei sobre alguns deles nesse post: "Aquilo que me salva no luto", mas desde então apareceram vários outros que foram fundamentais para mim.

Chegarei aos 8 meses desde que a Helena se foi... Os primeiros dias e meses foram certamente os piores, mas tenho recaídas na dor. Isso, de fato, faz parte do processo. Gostaria muito que fosse diferente, mas não é.

Hoje falo de uma "fulaninha" que chegou em casa cheia de marra, prometendo aprontar "mil-e-uma", mas que nos surpreendeu com sua alegria e carinho.

Tive uma cachorra da raça beagle durante a adolescência que se chamava Belly. Ela marcou para sempre a minha vida. Quando nos ofereceram a Milly, foi bem difícil resistir.

Nós a rebatizamos de "Nina", nome escolhido pelo meu filho, e ela já traz bastante alegria para o lar.

Demos vários apelidos, e certamente virão diversos outros: "Nina Furacão", "Lady Nina", "Ninoca", "Tranqueirinha" e por aí vai...

A Ninoca, que chegou no dia 16/03/16, certamente me salva no luto!