26 de fevereiro de 2016

Adaptação

Depois de seis meses que a passarinha se foi, consigo perceber algumas mudanças em mim...

Sinto-me mais "adaptada" à realidade de ter perdido minha bebê antes do seu nascimento.

Diferentemente dos primeiros dias e meses, já não vejo mais a minha filha em todas as menininhas e bebês que encontro pelo caminho.

Isso era bem difícil no começo. Um gatilho para a dor lancinante que estava presente.

Em contrapartida, pego-me fantasiando como ela seria...

Como estaria em seus seis meses de vida?

Seria chorona ou calma?

Séria ou engraçada?

Esfomeada?

Apaixonada pelo pai e pelo irmão? (algo dentro de mim dizia que ela seria extremamente apaixonada pelos dois)

Qual o som da sua risada?

Como ela choraria?

Seria teimosa? Emburrada? Alegre?

O que a encantaria? Que música a acalmaria nos momentos de cólicas e irritação?

Ganharia peso fácil? Seria forte como o irmão?

Gostaria do sling? De rede? De colo?

São infinitos pontos de interrogação.

Perguntas que jamais terão respostas e, a isso, também precisarei me adaptar.

24 de fevereiro de 2016

Até breve!

Hoje chegou o livro que mais me foi recomendado após a perda da Helena.

Eu não quis comprá-lo antes pois tive receio que a experiência da Camila pudesse influenciar minhas próprias descobertas. Que, de repente, eu me sentisse insegura para encontrar meu próprio caminho no luto.

Ou, pior, que eu caísse na armadilha de uma "fórmula pronta" e me decepcionasse com sua ineficácia.

Mas não resisti às inúmeras sincronicidades que ocorreram recentemente, e decidi comprar o "Até breve, José".

Senti muito amor quando abri o envelope... Pensei na Camila, no José, em mim e na Helena.

Afinal, há um sentimento único em perder um filho tão precocemente, uma emoção que só pode ser compartilhada por aqueles que a vivenciaram.

Depois de me tornar mãe, sempre tive a sensação de ser um pouco mãe de todas as crianças do mundo...

Agora, sinto-me também um pouco mãe de todas as estrelas que habitam o céu.

Josés, Helenas, Miguéis, Catharinas, Cauês... Todos filhos do meu amor... Todos de uma linda e reluzente constelação!

Camila, obrigada por seu carinho. Estou ansiosa por encontrá-los nessa leitura!

Quando a gente ama, é um clarão do luar


O Que É o Amor?
Maria Rita
  
Se perguntar o que é o amor pra mim
Não sei responder
Não sei explicar
Mas sei que o amor nasceu dentro de mim
Me fez renascer
Me fez despertar

Me disseram uma vez
Que o danado do amor
Pode ser fatal
Dor sem ter remédio pra curar
Me disseram também
Que o amor faz bem
E que vence o mal
E até hoje ninguém conseguiu definir
O que é o amor

Quando a gente ama, brilha mais que o sol
É muita luz
É emoção
O amor
Quando a gente ama, é um clarão do luar
Que vem abençoar
O nosso amor

23 de fevereiro de 2016

Uma história bela

Ontem tive uma noite insone.

Lua cheia, talvez....

Ela sempre mexe comigo.

A saudade da Helena bateu forte antes de dormir, e decidi que precisava encontrar alguma maneira de aliviá-la. Um ritual que pudesse recorrer ao me sentir assim.

Então coloquei as duas mãos sobre o ventre; depois, uma sobre o ventre e outra no coração. Recordei quando ela estava dentro de mim e do quanto nos amamos durante os nove meses de união.

Inesperadamente, senti uma onda de amor tomar conta da alma. Um calor vindo do útero e do coração me preencheu por inteira. De uma forma que as palavras são incapazes de expressar, acessei o amor da Helena por mim, pelo seu pai, pelo seu irmão.

Lembrei-me do quão linda foi nossa gestação, o trabalho de parto e sua despedida. 

Fiquei feliz por cada segundo que vivemos juntos (nós quatro), por toda a alegria que ela nos trouxe e, principalmente, pelo que nos ensinou (e continua ensinando).

A maior lição da Helena foi mostrar a imensa capacidade que possuímos de amar.

Pela primeira vez eu me dei conta disso... Quantas pessoas conseguem acessar a sua falta de limites no amor? Quantas pessoas podem provar a si mesmas que o seu amor é capaz de transcender qualquer barreira, extrapolar todas as compreensões e provocar, assim, um alargamento da alma?

É difícil explicar, mas hoje eu conheço a minha potência no amor. Assim como a angustiante dor de perder uma filha, essa potência é algo que jamais consegui supor a plenitude.

Quando acessei essa compreensão, comecei a ser grata por nossa história. Comecei a sentir certa felicidade pelo que vivemos e também orgulho de mim. Da minha força, da minha capacidade de amar, do meu desejo em transcender tudo isso.

A história de nós quatro é uma linda história. Uma história tão bela, de uma dor tão majestosa, que só posso sentir gratidão. 

Obrigada, Helena, por me escolher como sua mãe! 

Estaremos todos sempre juntos, unidos em imenso amor.

18 de fevereiro de 2016

16 de fevereiro de 2016

Rabiscos

Hoje é meu aniversário, e não consigo pensar em nada relevante para postar...

Meu coração é um paradoxo.

Resolvi, então, transcrever pensamentos soltos que anotei em meu diário ontem à noite:

15/02/2016

"Hoje eu encontrei a Gabi na Casa Mandala e firmamos a nossa parceria.
Mas estava pensando agora...
Queria tanto abrir mão dessa experiência enriquecedora...
Queria tanto pagar o preço de ter uma alma pequena, só pra ter minha filha nos braços...
Minha Helena...
Nossa Helena...
Antes eu sentia que sua morte foi um pesadelo.
Agora tenho a sensação de que o que vivemos foi um sonho.
Que não foi real.
Estou perdendo a recordação dela na minha barriga."

De fato, conforme pedi, o meu corpo aceitou que não está grávido e nem com sua cria nos braços.

Percebi que já não tenho a viva sensação da Helena dentro de mim. Isso é ótimo para o meu luto e recuperação... Mas é o luto do luto...

A experiência de despedir de quem se ama, é uma das mais dolorosas que podemos viver.

No entanto, apesar de tudo, sei que jamais abriria mão de ter a Helena.

Caso me dissessem que eu poderia voltar atrás... Que me dariam outro bebê ao invés dela  (acredito firmemente que sua história é a de uma vida de nove meses no ventre da mãe), e que esse bebê teria muito tempo ao meu lado... Ah... Eu não aceitaria.

Então, com o coração cheio de lágrimas, reconheço que não há qualquer opção para mim.

"Se eu pudesse, teria minha filha  nos braços... Contudo, jamais abriria mão de gestar a Helena e de estar com ela por 'apenas' nove meses. Eu acolho a alma da minha filha e essa experiência tão única e dolorosa. Eu acolho meus sentimentos e trabalho na sua cura e transmutação. Hoje e para sempre."


13 de fevereiro de 2016

Há seis meses atrás...

Nossa passarinha voou.

Depois de intenso trabalho de parto, e em uma noite difícil para quem estava lá.

Sem contar os dias subsequentes à perda e à cirurgia, o sexto mês foi de longe o mais difícil de reviver.

Fiquei deprimida, enraivecida, irritadiça.

Todos os dias significativos foram vivenciados de forma intensa. Aliás, há pouco tempo notei que tenho quatro dias que se repetem mensalmente na memória:

Dia 10 - o dia da perda, quando percebi que Helena não mais se movimentava;
Dia 11 - o dia em que foi confirmado o óbito e fui internada;
Dia 12 - o dia do trabalho de parto, envolvendo muito silêncio;
Dia 13 - o dia do nascimento, do conhecimento e da despedida...

Sinto que não sou mais quem eu era, mas quem sou agora?

Que pessoa eu me tornarei?

É comprovado que a fase mais intensa do luto é no primeiro ano. Talvez por estar na metade dos 12 meses todas as emoções estejam à flor da pele. Penso que é o momento em que finalmente caiu a ficha da verdade nua e crua: sou uma mãe que perdeu sua filha sem a possibilidade de conhecê-la... 

Que não pôde dizer olhando em seus olhos o quanto é amada... De enterrá-la e dar o último beijo de despedida.

Sou uma mãe na dor pelo sofrimento do irmão daquela que partiu... Na dor pelo sofrimento do pai da Helena...

Queria que tivesse a possibilidade de fazer alguma coisa... No lugar mais protegido para alguém estar, o útero da própria mãe, minha filha morreu. E eu não pude evitar. Não, eu não pude evitar...

E isso dói demais na minha alma.

Não tem como voltar atrás. Não há nada que eu possa fazer para ter minha filha nos braços...

Minha pequena e amada Helena...

12 de fevereiro de 2016

Pé de manacá - 6 meses

No dia 10/02 completaram-se 6 meses da partida da Helena.

E plantamos um pé de manacá sobre a placenta que a nutriu de amor durante o tempo que viveu entre nós.

Sentiremos o perfume da sua presença em nosso jardim.

Ritualizando e amando, vamos nos despedindo daquela que sempre permanecerá em nossos corações.

Amamos você, passarinha!















10 de fevereiro de 2016

Onde brilham a lua... e as estrelas...

Conheci essa música através do meu feed de noticias de hoje...

Há seis meses Helena silenciou dentro de mim.

Um vazio que, agora, tento preencher com essa melodia.

Amo você, filha!

5 de fevereiro de 2016

Há momentos...


Há momentos em que percebo

Um silêncio triste dentro de mim.

Um silêncio que só se ouve em funerais...


O tempo parece suspenso,

Como o vazio que encontramos

Entre duas notas musicais


Expectativa,

Vazio,

Tristeza ...


Então, precisando de consolo

Surge um ombro amigo para me acolher

Resgatando-me na alegria que deverá permanecer


Diariamente, Deus oferece

tudo o que preciso

para amar e viver

4 de fevereiro de 2016

Quando a dor se transforma em poema - Rubem Alves

Às vezes sinto inveja de quem consegue expressar melhor do que eu mesma aquilo que sinto.

Essa crônica é uma obra-prima sobre o luto.

O mundo cai. Nada mais faz sentido. Aquela que partiu era a pessoa mais importante da sua vida (ainda que tenham ficado tantas outras, amadas na mesma proporção).

Seguem os trechos especialmente marcantes para mim. 

Mas, leia o texto completo. Sua alma será tocada de uma maneira bastante singela.

Todo mundo já perdeu alguém que muito ama... Se não perdeu, sinto muito, isso um dia inevitavelmente irá acontecer.

E você recordará essas palavras... 

"Vazia das palavras que a dor roubou, a alma se volta para os poetas. Não, na verdade não é bem assim. A alma não se volta para nada. Ela está abraçada com a sua dor. São os poetas que vêm em nosso auxílio, mesmo sem serem chamados. Pois essa é a vocação da poesia: pôr palavras nos lugares onde a dor é demais. Não para que ela termine, mas para que ela se transforme em coisa eterna: uma estrela no firmamento, brilhando sem cessar na noite escura. É isso que o amor deseja: eternizar a dor, transformando-a em coisa bela. Quando isso acontece, a dor se transforma em poema, objeto de comunhão, sacramento."

"Sei que minhas palavras são inúteis. A morte faz com que tudo seja inútil. Olho em volta as coisas que amo, os objetos que me davam alegria, o jardim, a fonte, os CDs, os quadros, o vinho (ah, o riso dele era uma cachoeira, quando abria uma garrafa de vinho!): está tudo cinzento, sem brilho, sem cor, sem gosto. Não abro o vinho: sei que ele virou vinagre. Rego as plantas por obrigação. O dever me empurra: elas precisam de mim. Agrado o meu cachorro por obrigação também. Ele não é culpado."

"Ter um deus forte é saber que, se tivesse querido, ele teria evitado a morte. Se não evitou é porque não quis. Ora, se foi ele quem matou, ele não pode estar sofrendo. Está é feliz, por ter feito o que queria. Assim, ele é culpado da minha dor. Eu e ele estamos muito distantes, infinitamente distantes. Como poderia amá-lo – um deus assim tão cruel? Mas, se ele é um deus fraco, isso quer dizer que não foi ele quem ordenou – ele não pôde evitar. Um deus fraco pode chorar comigo. Ele até se desculpa: 'não foi possível evitá-lo. Eu bem que tentei. Veja só estas feridas no meu corpo: elas provam que me esforcei…'. Ele chora comigo. E por isso nos amamos."



2 de fevereiro de 2016

A água que cura

Hoje é o dia de Iemanjá...

É tudo muito louco, mas foram inúmeras sincronicidades que a trouxeram para perto de mim.

Tudo começou quando passamos a primeira semana de Dezembro na praia. Foram dias muito marcantes. Eu estava no pico da dor, e todos nós precisávamos de um período de descanso emocional e físico.

Levei a tiracolo o livro "Senhora de Avalon", que precede a trilogia "Brumas de Avalon". Sou apaixonada pela saga de Viviane e Morgana!


Enfim... Uma leitura de conexão com a sagrada Natureza e com o feminino, assuntos que definitivamente tocam a minha alma.


Em um momento de descanso, percebi a "Senhora Iemanjá" esvoaçando à beira da praia. Estampada em uma canga, a imagem do mais puro amor curador e maternal.

Foi então que notei a conexão entre o livro em minhas mãos, a imagem da Grande Mãe, e o meu momento de dor.

Após esse insight, meus banhos ao mar foram intensos e diferentes... Pedi a cura do corpo e do coração. Pedi a limpeza e a purificação. Pedi o amparo e a compreensão. Pedi, simplesmente, compaixão.

Curiosamente, as dores remanescentes da minha cirurgia desapareceram.

Voltei renovada e grata. 

Fiz uma mandala para a Doce Senhora das Águas, poucos dias após o meu retorno. Linda e resplandecente!


Deparei-me, ainda, com alguns textos sobre esse arquétipo tão inspirador no blog "O Feminino e o Sagrado"... Sincronicidades que curam:

Iemanjá e o saber das mães

"Minha" Iemanjá e algumas lições

Saindo das águas

Esse último, tão perfeito quanto os demais, ensinou-me sobremaneira. Segue o link e pequeno trecho:

Sabedoria da Água e dia de Iemanjá

"Tudo funciona melhor quando existe afinidade entre os elementos. Numa relação afetiva, na amizade, nas parcerias de trabalho, na ascensão profissional, as coisas funcionam dessa forma. Quando uma pessoa gosta do que faz, é mais fácil progredir. Não há esforço, tudo é gratificante. Quando as pessoas são afins, não há formalidades. As coisas fluem.


Não é esforço nenhum para a água descer um terreno em declive e pelos caminhos abertos.”


Sou grata!