7 de novembro de 2015

A Exilada

Eu ganhei esse livro da minha avó (materna) Auzenda há aproximadamente 15 anos...

Ela me recomendou, com um brilho no olhar, que eu o lesse porque era muito bonito e a história se desenrolava na China.

Imaginei que o interesse especial era pelo fato do seu pai ter estudado naquele país asiático. De forma curiosa, sempre que começava o romance, algo mais interessante se apresentava e eu abandonava a leitura.

No luto, eu me recordei dele. Gosto muito do estilo de Pearl S. Buck, e eu buscava uma leitura fácil mas recheada de sabedoria feminina. Eu me deleitei disso com o seu outro romance "Pavilhão de Mulheres", então achei que era o momento.

Bom, o livro é a biografia da mãe de Pearl. Uma norte-americana que, após o casamento, muda-se com o marido para a China com um objetivo missionário cristão. 

Eu jamais o recomendaria para uma mãe que perdeu o filho.

Fiquei muito emocionada ao me deparar com a morte de quatro dos seus sete filhos, em tenra idade. Todos por motivo de doença, e em momentos diferentes. Questionei-me: "que mulher suportaria?"

Ela suportou, como muitas outras suportaram e ainda suportarão.

Eu me solidarizei não só com a sua dor, mas também com seu breve momento de revolta e reconciliação com Deus.

No final, refleti sobre a vida que teve. Na grande mulher que foi, embora jamais tivesse acreditado nisso. Sinto que muitas mulheres passam a vida sem enxergar o seu real valor e o quanto fizeram a diferença na vida daqueles que a rodearam.

Mas, pensando bem, aquelas que não têm essa humildade, certamente não são mulheres de "almas largas", não é?

Eu senti a presença da minha avó em toda a leitura. 

Não posso perguntar a ela do que mais gostou, pois já fez sua "grande viagem". Mas imagino que, além de entrar em contato com os costumes de um povo com o qual seu pai conviveu por certo período, reconheceu-se numa mulher que dedicou a vida em nutrir sua família de amor e cuidados.

Também me reconheci nessa história. 

Entrar em contato com a vida de uma mulher se desenrolando aos meus olhos, com todas as alegrias, tristezas, sofrimentos, batalhas, amores, e sabê-la real, fez-me compreender que, de fato, a graça da nossa existência está na paradoxalidade do que enfrentamos.

De repente eu compreendi que é assim mesmo. E que as cicatrizes do nosso coração podem nos fazer portadores de mais sabedoria.

A vida de quem foi sensível às diversas dores que enfrentou, pode ser de uma simplicidade reconfortante. Simplicidade de anseios, quero dizer.

Carie (a nossa protagonista aqui), nutria-se da beleza de tudo que a cercava ao se deparar com momentos de extrema dificuldade. E conseguia extrair alegria das coisas mais simples, para a sua cura. Ela usa muito essa palavra: "cura".

A palavra que me acompanha nesse momento especialmente difícil.

Concluí que "a cura" das minhas feridas depende de tempo, mas também de um olhar atento para meu interior. 

Restou-me responder a pergunta: "o que nutre a minha alma?".




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