15 de setembro de 2015

Quando te escolhi

Boa tarde, passarinha!

De fato, tem dias que são mais difíceis... Mas eu e seu pai estamos apoiando e dando muita força um para o outro. Além de oportunidades de amadurecimento, logo esses momentos se tornarão lembranças. 

Virtualmente, eu conheci a mamãe do Igor. Ela se chama Flavia Camargo e publicará o livro "Quatro Letras" no ano que vem. Seus textos são muito bonitos, e também são destinados ao seu bebê-estrelinha, de modo que me identifico grandemente com seus pensamentos e palavras.

Sabe que sua gestação foi totalmente de aceitação e amor, Helena... 

No lugar das fantasias de "dever-ser", houve uma sublime conexão com a sua essência. O nosso objetivo era o de que pudesse atingir a própria plenitude no mundo e entre nós. 

Assim foi e assim é, passarinha, já que aceitamos a sua breve passagem física.

Feche os olhos, pequerrucha. Ouça a mamãe contar essa história que foi escrita pela Flavia e que serve perfeitamente para você:


Querido filho, na última noite, enquanto repousava a cabeça no travesseiro, comecei a ver um filme que passou a rodar na minha mente. Parecia ser uma revelação, pois me levou a viajar no tempo para testemunhar o instante em que você entrou no meu destino. Me vi caminhando por um jardim onde estavam distribuídas várias cestas no chão. Reparei que havia bebezinhos dentro de cada uma. Graciosos, risonhos, era difícil saber qual irradiava mais encanto. Bastou que eu escutasse uma voz para entender o cenário que me cercava. A voz começou a falar que um de meus óvulos estava prestes a ser fecundado e, portanto, em breve eu me tornaria mãe. Aqueles eram os candidatos que esperavam a oportunidade de nascer.
Chegando mais perto, notei que etiquetas estavam presas na lateral das alças. Cada criança tinha uma frase correspondente como se fosse a descrição de um produto que está à venda. Interessada no conteúdo daqueles papéis pendurados, li alguns de forma aleatória. Um dizia que aquela filha me daria muitos netos. Outro dizia que aquele filho me encheria de orgulho. Perguntei de que forma o menino faria eu me orgulhar e a voz respondeu que o bebê carregava um talento e se destacaria em sua profissão quando crescesse.
Teve também papéis dizendo que determinado filho retribuiria meu afeto, dividiria comigo seus segredos, me cobriria de cuidados na velhice, etc. Mas quando eu te encontrei, não tive mais dúvidas de qual filho eu deveria escolher. Na sua etiqueta dizia que você me faria desvendar o infinito.
— Pronto! Achei meu filho. É este que eu quero.
Encerrado o assunto, fui saindo, sem me preocupar com mais nada. Antes de me afastar por completo, porém, a voz me chamou:
— Não quer saber como ele vai fazer isso?
Não senti necessidade de receber explicação nenhuma. Era exatamente você que eu desejava. Qualquer detalhe era irrelevante. Mas é muito lógico que quem almeja alcançar um bem tão grande precisa fazer um esforço da mesma proporção. Quando te escolhi, dei asas a uma aspiração audaciosa. Não foi fácil aceitar que não viveríamos juntos todos aqueles anos que pretendia passar ao seu lado. Mas foi apenas através desse obstáculo que eu pude descobrir que o amor não precisa da matéria para continuar pulsando eternamente.
Reclamei da dor que me feria enquanto eu experimentava a resistência que o apego opõe contra a morte. Mas hoje entendo que se não tivesse me submetido a essa luta, nunca poderia ter comprovado que a força do amor é capaz de vencer todas as barreiras! Não possuo mais seu corpo comigo, mas tenho certeza de que sua ausência não me faz ser menos privilegiada, pois o amor que você fez nascer em mim permanece dando frutos todos os dias. Se alguma vez você tiver se acanhado por achar que sua partida frustraria meus planos, fique sabendo que nunca fez nada para me desapontar. Você me ensinou tantas coisas, que saber que você ficaria pouco tempo aqui não teria mudado minha decisão.
Algumas mães esperam que seus filhos sejam bonitos, inteligentes, saudáveis... Algumas, menos exigentes, esperam apenas que seus filhos fiquem vivos. Eu não tive essa chance, mas tive outra, que não deixou de atender minhas necessidades. Você não é o filho que vai me convidar para a sua formatura, nem para o seu casamento, mas é o único filho que eu gostaria de ter!
Tempos atrás li o texto de uma pessoa afirmando que, quando um ente querido morre, precisamos nos conformar com a tristeza, pois o sofrimento é o preço do amor. Não concordo com essa opinião. Penso que é justamente por te amar tanto que eu tenho conseguido ser feliz, para que através da minha felicidade você possa ver que nunca me decepcionou. O amor é divino e só pode ser a fonte de coisas extremamente boas!
Um forte abraço da sua mãe,

Flavia Camargo."

Passarinha, tenha certeza: não trocaríamos a sua cestinha por nenhuma outra!

Você nos faz melhores a cada dia.

Nós te amamos muito e infinitamente,

Beijos da sua mamãe, papai e irmão


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