11 de setembro de 2015

Passarinha

Filha, você já entendeu por quê a chamo de “passarinha”?

Perceba que esse apelido carinhoso foi dado apenas depois que nos deixou…

Na decoração do seu quarto havia alguns passarinhos confeccionados pela tia Cecê. Eu também encomendei marcadores de livros da tia Tânia, muito delicados, como recordação pelo seu nascimento.

Embora difícil, decidimos entregar as lembrancinhas para os amigos e familiares que viessem nos visitar. Então, a tia Rê (Regina Nunes, do Maria Flor) ficou sensibilizada com a delicadeza delas e fez uma analogia à sua passagem tão rápida, como um pássaro que voa livre pelo céu.

Enquanto conversávamos, eu me lembrei do nosso último sonho sobre o parto.

Na gestação, sonhei com todas as fases do parto separadamente: contrações, saída do tampão mucoso, nascimento… Contudo, o último foi especial e completo:

Estava na casa onde passei toda a minha infância, em São Paulo. Fui para o meu quarto, no andar de cima, na época compartilhado também com meus irmãos. Havia uma cama branca enorme. Tudo era branco. Eu já sentia as contrações e me sentia segura e feliz.

A Bernardete estava comigo.

Senti você nascer, e quando a peguei em meus braços, era um pássaro. Um pássaro, filhota! Que logo se transformou em uma linda bebê.

Quando contei esse sonho para a Regina, ela exclamou: “é a nossa passarinha!”.

Sim, pequerrucha, a nossa passarinha… Amor e liberdade é a música da sua alma.

Depois disso, a Rê nos presenteou com essa linda história. Feche os olhos e ouça a minha leitura para você:

Era uma vez um pássaro. Adornado com um par de asas perfeitas e plumas reluzentes, coloridas e maravilhosas. Enfim, um animal feito para voar livre e solto no céu, e alegrar quem o observasse.

Um dia, uma mulher viu o pássaro e apaixonou-se por ele. Ficou a olhar o seu voo com a boca aberta de espanto, o coração batendo mais rapidamente, os olhos brilhando de emoção. Convidou-o para voar com ela, e os dois viajaram pelo céu em completa harmonia. Ela admirava, venerava, celebrava o pássaro.

Mas então pensou: talvez ele queira conhecer algumas montanhas distantes! E a mulher sentiu medo. Medo de nunca mais sentir aquilo com outro pássaro. E sentiu inveja, inveja da capacidade de voar do pássaro.

E sentiu-se sozinha.

E pensou: “Vou montar uma armadilha. Da próxima vez que o pássaro surgir, ele não partirá mais”.

O pássaro que também estava apaixonado, voltou no dia seguinte, caiu na armadilha, e foi preso na gaiola.

Todos os dias ela olhava o pássaro. Ali estava o objecto da sua paixão, e ela mostrava-o às suas amigas, que comentavam: “Mas tu és uma pessoa que tem tudo”. Entretanto, uma estranha transformação começou a processar-se: como tinha o pássaro, e já não precisava de o conquistar, foi perdendo o interesse. O pássaro, sem poder voar e exprimir o sentido da sua vida, foi definhando, perdendo o brilho, ficou feio – e a mulher já não lhe prestava atenção, apenas prestava atenção à maneira como o alimentava e como cuidava da sua gaiola.

Um belo dia, o pássaro morreu. Ela ficou profundamente triste, e passava a vida a pensar nele. Mas não se lembrava da gaiola, recordava apenas o dia em que o vira pela primeira vez, voando contente entre as nuvens.

Se ela se observasse a si mesma, descobriria que aquilo que a emocionava tanto no pássaro era a sua liberdade, a energia das asas em movimento, não o seu corpo físico.

Sem o pássaro, a sua vida também perdeu sentido, e a morte veio bater à sua porta. “Por que vieste?” perguntou à morte.

“Para que possas voar de novo com ele nos céus” respondeu a morte. “Se o tivesse deixado partir e voltar sempre, você o amaria e o admiraria ainda mais; porém agora você precisa de mim para poder encontrá-lo de novo.

* (não conhecemos a autoria, mas provavelmente Paulo Coelho)

Pequerrucha, nós não a prenderemos. É livre para voar e seguir o caminho traçado por sua alma.

No entanto, permita-nos estar sempre em sua companhia. Somos sua família e a amamos eternamente.

Voa, passarinha, voa! E traga notícias dos céus que visitar.

Beijos, carinhos e afagos…

Sua mamãe, papai e irmão amam você (“amam você” foi seu irmão que escreveu!)

2015-09-11 17.09.44

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